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O G20: Fora a nova ordem mundial?

O G20: Fora a nova ordem mundial?

O que é o G20? 

O G20 é fórum informal de cooperação internacional o qual reúne os países com as maiores economias do mundo com o objetivo de alicerçar o desenvolvimento mundial por meio do fortalecimento da arquitetura financeira internacional, contando com reuniões anuais dos estados-membros.   

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Foto oficial do G20 (ou foto de família) agora com a presença do presidente Joe Biden, dos EUA — Foto: Ludovic Marin/AFP 

A história do grupo teve o seu início em 1999, ano de criação do fórum. A iniciativa surgiu em resposta às heranças problemáticas da crise financeira asiática de 1997, iniciada na Tailândia. Todavia, inicialmente, as reuniões contavam somente com a participação de  ministros da economia e presidentes dos bancos centrais das nações. Foi apenas no ano de 2008 que o G20 se elevou ao nível que opera na atualidade, dispondo da participação de chefes de estado. A nova e definitiva característica do fórum surgiu após a crise mundial que resultou do colapso do banco Lehman Brothers, despencando o mercado de ações. O evento ficou conhecido como “Segunda-feira do terror”.

Com as discussões acerca da erosão do multilateralismo e uma consequente reorganização dos papeis ocupados pelos países na  diplomacia atual, o G20 ocupa um lugar de destaque na geopolítica atual, visto que, segundo a própria organização, juntas, as nações membros representam 85% do PIB e mais de 75% do comércio mundial. 

Alguma coisa está fora da ordem… 

fora da nova ordem mundial: a relevância do G20 na erosão do multilateralismo 

Com o acirramento de confrontos ideologicos e tarifarios entre grandes potências e a escalada de conflitos militares, a mentalidade nacionalista acaba o recuperando o seu folego dentro da politica externa de alguns Estados. Desse modo, colocando em cheque a necessidade de abordagens coletivas para a mitigação de desafios globais e comprometendo a essência de organizações supranacionais como a Organização das Nações Unidas e fóruns de discussões como o G20. 

Sendo assim, a cúpula de 2024, sediada pelo Brasil, um país que ocupa um espaço complexo na geopolítica, pode ser encarada como um importante ensaio para a reestruturação da Ordem política da atualidade. A reunião realizada no Rio de Janeiro contou com episódios que demonstraram algumas fragilidades da lente multilateralista quando usada para analisar as problemáticas que circundam a governança global.

Durante as discussões do fórum, a preocupação a respeito da escalada de conflitos armados entre nações foi frequente, e ilustrou o conflito identitário das instituições globais multilaterais. Durante uma reunião do G20 Social, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República Márcio Macedo expressou a sua indignação com a ineficiência da ONU e do Conselho de Segurança da organização, o qual, segundo o ministro, não almeja verdadeiramente a paz e “financia a guerra”. Demonstrando a crise de legitimidade pela qual passam as instituições internacionais.  

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Márcio Macedo. Foto: Bárbarah Queiroz

A crítica do ministro veio em um momento interessante, visto que cinco dias após a declaração Vladimir Putin aprovou uma nova doutrina nuclear para a Rússia, a qual pode ser considerada uma resposta a autorização de ataque a alvos em território russo com mísseis de longo alcance americanos pelo presidente Joe Biden. A nova política agora assume ataques conjuntos como uma agressão à nação, se reservando o direito a usar armas nucleares nessa ocasião. Ambas as nações são membros do Conselho de Segurança. 

Adicionalmente, outra questão que surgiu durante as reuniões foi a dos possíveis conflitos da agenda do poder executivo brasileiro com a agenda argentina, em especial a respeito da taxação dos super-ricos, a qual o ministro da Fazenda, Fernando Haddad apoia fielmente. Visto esse impasse, o secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou para os líderes presentes na conferência prezassem por esforços multilaterais e pelo consenso, pois a perda desses artifícios diplomáticos nas negociações internacionais ameaça o futuro do planeta.

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Foto oficial da chegada de Milei ao encontro do G20 no Rio (Ricardo Stuckert/PR)

Ao fazer esse pronunciamento, o secretário-geral se refere às discussões que ocorreram Conferência das Partes (COP) 29, no Azerbaijão, que terminou com uma ruptura dramática de nações durante a conferência devido ao financiamento proporcionado por países desenvolvidos aprovado ser julgado “insignificante” para o enfrentamento das mudanças climáticas por parte países sub-desenvolvidos e em desenvolvimento. 

O clamor de António Guterres foi, de certa forma, atendido pelo G20. A Declaração de Líderes, aprovada durante a cúpula, celebrou o consenso e contou com a inclusão dos principais pilares do governo brasileiro, como a taxação proposta pelo ministro da Fazenda,mesmo em face da inicial oposição argentina. Apesar da resolução do fórum receber algumas críticas quanto a falta de políticas afirmativas, ela representa um certo “último respiro” de Estados que ainda prezam pelo multilateralismo.  

Ele é carioca, ele é carioca…

O Brasil na liderança do G20

Sendo a maior economia latino-americana, contudo, possuindo um percentual de desigualdade crescente segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, e equilibrando relações exteriores com agentes que se mostram em posições opostas em conflitos internacionais, o Ministério das Relações Exteriores do país, que após quatro anos de sucateamento, enxergou na cúpula uma oportunidade de reviver o papel que a diplomacia brasileira já exerceu, sendo famosa pela sua postura dialoguista e mediadora, e colocar os pilares do poder executivo em pauta na comunidade internacional. 

Por essa ótica, é possível afirmar que a federação Brasileira não renegou o seu legado e adotou a sua postura clássica dentro e fora das reuniões. Tendo como destaque um consenso contemplativo aos objetivos ligados ao chefe de estado no documento final, a viabilização da criação da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, que funcionará de forma autônoma ao G20 e objetiva a facilitação de financiamentos para a causa, e o “charme brasileiro” adotado na recepção dos líderes e na construção de relacionamentos bilaterais entre os países, contando com registros do presidente francês Emmanuel Macron passeando pelas ruas da “cidade maravilhosa” acompanhado governador Eduardo Paes, que afirmou em suas redes que o presidente “Já virou carioca!”. 

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Cosme, segundo da esquerda para a Direita, durante a visita com Macron ao Cais do Valongo — Foto: Reprodução/Instagram

Contudo, o jeitinho de andar da postura do Brasil em relação ao meio ambiente desagradou alguns ambientalistas por se mostrar, novamente, contraditória . Apesar de endossar a economia sustentável durante as reuniões, com uma Declaração Final endossando o compromiso com a sustentabilidade, e com 90% dos acordos de investimentos internacionais com uma cláusula ambiental, o país também assinou um protocolo de importação de gás natural, obtido por meio do fraturamento hidráulico – prática extremamente prejudicial ao meio ambiente – na Argentina. 

Dito isso, apesar do terreno incerto no qual se encontrava, salvo a presença de críticas pontuais, a diplomacia brasileira  usufruiu com maestria dos holofotes proporcionados pelo papel da presidência do fórum internacional.

O futuro do G20

As reuniões do fórum internacional acontecem todos os anos, desde 1999, onde o grupo assumiu a forma de presidência rotativa, que funciona da seguinte maneira: os integrantes são separados em cinco grupos-usualmente separados de forma regional- e seu mandato é de um ano, sendo o consenso interno do grupo o critério para definir quem irá sediar a próxima cúpula.

A próxima sede do G20 será na África do Sul, em 2025, e proporcionará ao grupo dois anos seguidos de conferência sendo sediada em países do Sul Global. Essa sequencialidade toma uma forma interessante quando se coloca em perspectiva a histórica pouca voz que o país possui nas decisões econômicas globais, e representa o desejo de uma mudança dos paradigmas atuais do equilíbrio internacional do poder. 

Para 2025, é possível imaginar a reunião da cúpula sem grandes mudanças em seu escopo, trazendo novamente assuntos como a presença do Sul Global na geopolítica atual e resoluções coletivas para a crise climática. No entanto, parafraseando Drummond, no meio do caminho há uma pedra, e há uma pedra para que a África do Sul execute as políticas esperadas: o início dos mandatos de diversos líderes com políticas mais nacionalistas ao redor do mundo. Colocando a obtenção de consenso em políticas afirmativas quanto ao meio ambiente e a garantia da legitimidade de acordos prévios na berlinda. 

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Donald Trump faz discurso da vitória em 6 de novembro de 2024 — Foto: Brian Snyder/Reuters

Contudo, a presidência do grupo sem sombra de dúvidas corrobora com o multilateralismo e compra mais tempo para instituições de cooperação internacional. 

Referências:

1- https://agenciagov.ebc.com.br/noticias/202404/g20-o-que-e-e-como-funciona

2-https://www.gov.br/palmares/pt-br/assuntos/noticias/a-importancia-do-201cgrupo-dos-vinte201d-para-o-brasil-e-para-a-cultura-negra

3-https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/g20/noticia/2024/11/14/ministro-defende-mudanca-na-onu-e-critica-conselho-de-seguranca-durante-g20-social-financiam-as-guerras.ghtml

4-https://www.bbc.com/portuguese/articles/cn9xp850j2ro

5-https://agenciagov.ebc.com.br/noticias/202407/haddad-cita-taxacao-dos-super-ricos-como-fonte-de-combate-a-fome-e-a-pobreza

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