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A resposta da China ao tarifaço de Trump

A resposta da China ao tarifaço de Trump

Por Cecília Chalela e Gabriela Abarca

A resposta da China ao tarifaço de Trump

O gabinete de Donald Trump, 47º presidente dos Estados Unidos da América, eleito em meio a inflamados discursos nacionalistas e anti-imigração, causou grande comoção recentemente ao concretizar suas ameaças recorrentes de imposição de tarifas comerciais de reciprocidade a produtos estrangeiros.

A quarta-feira do dia 2 de abril – data da divulgação, pela Casa Branca, da primeira versão da longa lista de mais de 180 países afetados por tarifas mínimas de 10%, incluindo desde membros da União Europeia até, é claro, integrantes do BRICS – foi anunciada pelo presidente como o “Dia da Libertação” dos Estados Unidos, que, “sacados, pilhados e estuprados por nações […] tanto amigas quanto inimigas”, se encaminham agora para uma nova “Era de Ouro” da economia.

Embora impactante e recebida com represálias nacionais e internacionais (o jornal inglês liberal The Economist descreveu o ato como sendo de um “vandalismo irracional”), a ordem executiva – a qual entrou em vigor no dia 3 de abril – assinada pelo líder político estadunidense não é, necessariamente, uma surpresa: Trump é herdeiro de um longo histórico de políticas protecionistas agressivas e de oposições ao livre-comércio por parte do Partido Republicano, de Herbert Hoover a Richard Nixon, Ronald Reagan e George W. Bush. 

De fato, a previsível política externa de Trump desde sua posse parece ter sido pautada por uma aproximação crescente à Rússia de Vladimir Putin, ao mesmo tempo que por uma postura de isolacionismo e de clara combatividade à influência chinesa – a segunda maior economia do mundo – no mercado. Dessa forma, a China tem sido o principal alvo das taxações. Essa combatividade, no entanto, agora enfrenta retaliações por parte do governo de Xi Jinping.

1 A resposta da China ao tarifaço de Trump
Fonte: Casa Branca – https://www.whitehouse.gov/

A cronologia das tarifas

Na realidade, a política de tarifas de Trump vai além da decisão tornada pública no dia 2 de abril. No dia 20 de janeiro de 2025, poucos momentos depois de tomar posse do cargo presidencial e de ocupar pela primeira vez o Salão Oval após o mandato findado exatamente quatro anos antes, o republicano não perdeu tempo em anunciar sua pretensão de taxar estados como o Canadá, o México e a China.

Essa ambição, todavia, só se concretizou duas semanas mais tarde, no dia 4 de fevereiro, quando o primeiro estágio do tarifaço do governo Trump – surpreendentemente brando em relação à China –  foi comunicado: 25% tanto para produtos mexicanos quanto canadenses, e 10% para produtos chineses. Sem protestos significativos do governo chinês, a tarifa foi dobrada no terceiro dia do  mês de março, alcançando os 20%.

O infame “Dia da Libertação” representou, portanto, uma ampliação do tarifaço: dentre os países mais afetados, com tarifas totais que se aproximam dos 50%, estão Lesoto, na África Austral, e a colônia atlântica francesa Saint-Pierre e Miquelon, ultrapassados apenas pela China, à qual restou a taxação mais severa, de 34% além dos 20% anteriores, somando os 54%.

No último dia 8 de Abril, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês declarou que “Pressão, ameaças e chantagens não são o jeito certo para lidar com a China. Nós com certeza tomaremos medidas que salvaguardem e legitimem nossos direitos e interesses. Se os EUA não considerarem os interesses de ambos os países e da comunidade internacional, e insistirem em uma guerra comercial e tarifária, a China lutará até o fim” 

2 A resposta da China ao tarifaço de Trump
Guo-Jiakun, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China

Essa declaração veio em resposta a uma ameaça de retaliação americana após a China impor 34% de tarifas sobre os produtos americanos, que seria pouco tempo depois concretizada: no mesmo dia 8, a Casa Branca anunciou acréscimo de 50% sobre produtos chineses, chegando a 104%. 

No dia seguinte (9 de abril), a China adicionou 50% nas suas tarifas, atingindo  84%, e os EUA responderam com mais 19%, chegando a 125% de tarifas sobre a concorrente. Além disso, Trump reduziu em 10% as tarifas sobre países que não retaliaram os EUA e anunciou uma pausa no tarifaço para eles durante 90 dias. Essas medidas escancararam a visão da administração Trump sobre a impossibilidade de diálogo na relação China-EUA. 

Escalada da Guerra Comercial 

A guerra comercial entre China e EUA pode até não ser nenhuma novidade, mas parece haver um consenso entre os analistas de que a nova política tarifária de Trump é algo nunca visto antes no comércio internacional. Depois de passar por um período de estabilidade precária durante o governo Biden, o embate comercial entre as duas maiores economias do mundo parece ter iniciado uma nova etapa, e há nos mercados uma perspectiva de desaceleração global. A sexta feira do dia 4 de abril ficou marcada por quedas nas principais bolsas americanas, e o mesmo ocorreu com as asiáticas na segunda (6). Além das ações, os preços de algumas commodities, como petróleo e cobre, também caíram ao longo da semana. 

3 A resposta da China ao tarifaço de Trump
Donald Trump e Xi Jinping em 2019
Fonte: Kevin Lamarque / Reuters 

China e UE: um novo caminho? 

A enorme barreira tarifária erguida pelos EUA representa agora um novo desafio para a economia chinesa: escoar os quase U$440 bilhões em produtos que foram destinados aos EUA só em 2024. Os olhares da China agora se voltam para o mercado europeu: na última terça-feira (8), uma ligação entre o premier Li Qiang e a presidente da Comissão Europeia da UE, Ursula Von der Leyen, comemorou os 50 anos de relações diplomáticas entre as duas economias. Nela, a presidente ressaltou a necessidade de negociação para a resolução do conflito das tarifas e reafirmou a intenção da UE em estreitar a relação bilateral com a China de modo a garantir melhor trânsito de produtos entre os dois mercados, além de possibilidade de cooperação na agenda climática e na transição industrial limpa.  

No mesmo dia, o Ministro do Comércio chinês, Wang Wentao, esteve em reunião com o comissário do comércio e segurança econômica da UE, Maros Sefcovic. O encontro teve como objetivo discutir a possibilidade de acordos comerciais, especialmente no mercado de veículos elétricos, que hoje compõe um grande pilar de ambas as economias. 

4 A resposta da China ao tarifaço de Trump
Wang Wentao e Maros Sefcovic
Fonte: Xinhua/ South China Morning Post 

Vale lembrar que a União Europeia chegou a demonstrar retaliação às tarifas de Trump: na última quarta-feira (9), o bloco anunciou taxas de 25% a diversos produtos americanos. No entanto, a presidente Ursula Von der Leyen voltou atrás e aplicou reciprocidade à pausa de 90 dias anunciada pela Casa Branca, “para dar chance à negociação”. Essa pausa, no entanto, não se aplica à China, o que traz dúvidas sobre o futuro das relações comerciais entre os três atores. 

5 A resposta da China ao tarifaço de Trump
Ursula Von der Leyen
Fonte: Thierry Monasse/Getty Images

Referências:

https://www.economist.com/leaders/2025/04/03/president-trumps-mindless-tariffs-will-cause-economic-havoc

Guerra comercial de Trump gera oposição dentro e fora dos EUA; tarifas são anunciadas hoje

https://cepr.org/voxeu/blogs-and-reviews/protectionism-nothing-new-republicans

https://operamundi.uol.com.br/politica-e-economia/quais-sao-os-paises-mais-e-menos-atingidos-pela-guerra-comercial-de-trump

Tarifaço de Trump: China promete lutar ‘até o fim’ após nova ameaça de tarifas – BBC News Brasil

China promete lutar contra tarifas americanas ‘até o fim’, e UE faz alerta contra escalada de tensões

China prepared to ‘fight to the end’ over US tariffs

https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/guerra-comercial-com-os-eua-obriga-china-a-buscar-novos-mercados/

https://ec.europa.eu/commission/presscorner/detail/en/read_25_1004

https://www.reuters.com/markets/china-eu-discuss-trade-resume-ev-talks-2025-04-10

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Fundado por alunos de Relações Internacionais da USP, somos um grupo de extensão que tem como missão promover a pesquisa e a extensão universitária na área de Relações Internacionais.