Edição #09 Newsletter Globalidades – Questão imigratória: situação e desafios atuais
Bem-vindo(a) à nossa nona edição da Newsletter!
O LAI Bertha Lutz preparou uma newsletter para você se manter informado sobre os principais temas que podem cair em seu vestibular. A cada mês enviaremos um e-mail com as principais notícias do período, um aprofundamento de um macrotema que pode aparecer em questões e temas de redação, e, para finalizar, algumas questões de prova resolvidas para te ajudar a estudar! O tema desta edição é “Questão imigratória: situação e desafios atuais”, muito importante para entender o cenário geopolítico atual.
Notícias do mês de abril

“Autodeportação”
No dia 05/05, a fissura de Trump pela soberania das fronteiras atingiu um novo patamar: o governo, que iniciou sua onda de deportação utilizando a força, agora procura incentivar a saída voluntária de imigrantes ilegais do país por meio de uma “bonificação” de mil dólares. Embora novo nos EUA, o programa de “autodeportação” já existe em diversos países da Europa, onde é chamado de “programa de retorno voluntário”. Os interessados devem cadastrar-se no aplicativo CBP Home e aguardar a aprovação, sendo que o pagamento só será confirmado quando o indivíduo chegar em seu país de origem. A proposta, divulgada ao público como “escolha segura”, é na verdade uma tentativa de economia, já que o custo médio de deportação, por cidadão, é de 17 mil dólares (o equivalente a R$ 96 mil).

Acordo de minerais ucranianos
Na última quarta-feira (30/04), Ucrânia e Estados Unidos assinaram um acordo sobre a exploração de minerais no território ucraniano. O documento foi oficializado após meses de intensas negociações entre os dois países. Inicialmente, a assinatura estava prevista para fevereiro; no entanto, as conversas foram interrompidas após uma tensa discussão entre Donald Trump e Volodymyr Zelensky no Salão Oval, quando o presidente americano acusou o líder ucraniano de estar “apostando com a vida de milhões de pessoas e com a Terceira Guerra Mundial”. Agora com a oficialização do acordo, o Departamento do Tesouro dos EUA declarou que será criado um fundo de investimento conjunto para a exploração de minerais, respeitando as cláusulas existentes. Teoricamente a parceria permitirá que os Estados Unidos tenham acesso aos minerais de terras raras presentes em Kiev, em troca da criação de um fundo destinado à reconstrução da Ucrânia, cuja infraestrutura foi severamente afetada pelo conflito com a Rússia. Já no ponto de vista americano o acordo representa um ganho estratégico para o país, já que os minerais ucranianos despertam grande interesse e chegam na hora certa. Atualmente, cerca de 80% dos minerais raros utilizados pela indústria americana têm origem na China.

Crise diplomática entre Brasil e Paraguai
No dia 8 de abril, o governo paraguaio entregou informações sobre a suposta espionagem da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) ao seu país para a promotora do Ministério Público do Paraguai, indiciando uma crise diplomática que une temas centrais da geopolítica contemporânea: energia e soberania. A investigação, ainda em estágios incipientes, tem como foco uma suposta operação de espionagem conduzida por agentes brasileiros, com o objetivo de obter informações privilegiadas sobre as negociações do Anexo C do Tratado de Itaipu, que trata dos custos de geração, distribuição e remuneração da energia. O Paraguai decidiu suspender tais negociações, em um ato de proteção aos seus assuntos internos, até que o Brasil esclareça o caso.

Ameaça de barragem de estudantes estrangeiros em Harvard
No dia 16 de abril de 2025, Harvard foi ameaçada de perder seus direitos de receber ingressantes do estrangeiro por Kristi Noem, Secretária de Segurança Interna dos EUA. Noem diz que retirará a elegibilidade da faculdade caso esta não entregue registros de “atividades ilegais e violentas” realizadas por estudantes de fora do país, numa tentativa de aplicar a política anti-imigração do novo governo estadunidense. A faculdade afirma que “não abrirá mão de sua independência nem de seus direitos constitucionais”.

Aprovada lei para Pacificação em Moçambique
A Assembleia da República de Moçambique aprovou em definitivo no dia 2 de abril a lei de acordo político para pacificar o país, a qual prevê rever a Constituição e os poderes do Presidente. Tal proposta de lei foi aprovada por unanimidade, portanto, passou pelas quatro bancadas parlamentares, as quais são compostas pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido no poder; pelo partido Povo Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS), líder da oposição; pela Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM). Segundo Feliz Sílvia, o Chefe da bancada da FRELIMO, a importância da lei reside na na criação de um ambiente de diálogo e confiança entre os partidos, permitindo uma maior previsibilidade no sistema político e reduzindo o risco de instabilidade. Além disso, o acordo pode contribuir para o fortalecimento das instituições democráticas ao aumentar a integridade do processo eleitoral.
Questão imigratória

Panorama Geral
Segundo a ACNUR, a agência da Organização das Nações Unidas para refugiados, movimentos migratórios constituem deslocamentos de pessoas ou de grupos humanos, provenientes de outras áreas, que entram em determinado país, com o intuito de permanecerem definitivamente ou por um período de tempo relativamente longo.
As migrações podem ser motivadas por diversos fatores que podem estar relacionados à pressões de seu lugar de origem, como guerras, crises climáticas, crises políticas e/ou econômicas, entre outras causas que forçam um indivíduo ou um grupo a deixar um determinado país em busca de asilo ou de oportunidades melhores e mais dignas de vida. Além disso, as migrações podem estar relacionadas a fatores de atração, quando as pessoas decidem se mudar para um determinado país ou região por acreditar que terão mais oportunidades lá.
Os movimentos migratórios possuem diversas características que estão associadas a sua motivação. Sendo assim, eles podem ser divididos em internos- quando ocorrem em um mesmo país, mas de uma região para outra- ou externos – quando se trata de uma migração internacional. Além disso, podem ser classificados como temporários- quando os indivíduos envolvidos têm a intenção de retornar para o seu lugar de origem- ou permanentes- quando não há intenção de retornar.
São classificados como fatores sociais e políticos, por exemplo, a perseguição étnica, religiosa, racial, política ou cultural, que podem levar as pessoas a abandonar os seus países. Um fator de destaque é a guerra e a instauração de regimes autoritários.
No que tange a migração ambiental, o ambiente foi sempre uma causa de migração, tendo em vista que as pessoas fogem de desastres naturais, como tsunamis e terremotos. Entretanto, as mudanças climáticas tendem a agravar esse fenômeno. De acordo com a Organização Internacional para Migrações, o termo ‘migrante ambiental’ aplica-se a “pessoas que, devido a alterações ambientais repentinas ou progressivas que afetam negativamente as suas vidas ou as suas condições de vida, vêem-se obrigados a deixar suas residências habituais, ou escolhem fazê-lo temporariamente ou permanentemente, e que se deslocam dentro do próprio país ou para o estrangeiro”.
A migração nos dias atuais
Os maiores fluxos migratórios de cada época estão diretamente relacionados a conflitos armados e instabilidades. Nesse sentido, dependem das especificidades de seus momentos históricos. Durante a Segunda Guerra, por exemplo, o êxodo do Velho Continente era notável, oriundo justamente dos conflitos e perseguições político-religiosas no território naquele período. Por outro lado, hoje, o epicentro das imigrações é outro: cerca de 73% dos refugiados sob o mandato do ACNUR são originários do Afeganistão, Síria, Venezuela, Ucrânia e Sudão — todas elas nações que passam ou passaram por guerras e ditaduras repressivas nos anos recentes.
Caso da Síria
A Guerra Civil da Síria, iniciada em janeiro de 2011, instaurou uma verdadeira crise humanitária no país. Os protestos da população contra a repressão política do governo de Bashar Al-Assad, como parte do movimento conhecido por Primavera Árabe, acarretou na intensificação de conflitos violentos e da perseguição estatal. A dura realidade da guerra tornou a fuga uma forma de sobreviver em busca de melhores condições: estima-se que existam 4,8 milhões de refugiados sírios em países próximos como Turquia, Líbano, Jordânia, Iraque e Egito. Destaca-se também a política alemã de receber imigrantes que, embora enfrente resistências internas, faz com que o país seja o destino mais comum para refugiados dentro do continente europeu.
Não são todos, porém, que conseguem escapar do país. Segundo dados do ACNUR, 16 milhões de pessoas precisam de assistência humanitária e de proteção na Síria, e o problema se mantém quase 14 anos após o início dos conflitos. Ainda segundo a Agência, mais de 13,5 milhões de pessoas foram forçadas a deixar tudo para trás. Vários cruzaram fronteiras para escapar das bombas e balas que devastaram suas casas e precisam de apoio para recomeçar.
Para se aprofundar na situação na Síria, acesse o artigo: https://laibl.com.br/a-queda-de-bashar-al-assad/
Caso do Afeganistão
Em 2021, com a retomada de poder pelo Talibã — grupo fundamentalista islâmico — a situação humanitária no Afeganistão foi baqueada. A mudança de regime gerou consequências agudas para o povo, especialmente aos grupos mais vulneráveis, em vista da redução de direitos. Frente à violência política, registrou-se que, até outubro de 2024, cerca de 5,3 milhões de pessoas já haviam se deslocado para países vizinhos. Assim, hoje, os afegãos constituem uma das maiores populações de refugiados do mundo, com quase 90% deles no Irã e no Paquistão, em razão de sua proximidade geográfica.
Entretanto, entre setembro de 2023 e meados de março de 2024, mais de 531.000 afegãos retornaram do Paquistão para seu país, a maioria deles após uma ameaça do governo de deportação de estrangeiros sem documentos. O retorno abrupto de centenas de milhares de afegãos agravou ainda mais a crise humanitária e sobrecarregou os recursos já limitados das comunidades vulneráveis. A ACNUR prestou assistência a cerca de 94.000 repatriados desde janeiro de 2023.
Caso da Venezuela
A Venezuela de Nicolás Maduro passa por uma crise socioeconômica e humanitária sem precedentes, envolvendo hiperinflação e escassez de alimentos. Tal cenário força parte significativa da população a se mover: calcula-se mais de 5,4 milhões de refugiados e migrantes venezuelanos ao redor do mundo, mais de 800.000 solicitantes de refúgio internacionalmente e cerca de 2,5 milhões vivendo sob outras formas legais de estadia nas Américas. Houve, também, um aumento de 8 mil por cento no número de venezuelanos buscando o reconhecimento do status de refúgio desde 2014.
Países anfitriões e comunidades na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, México, Panamá, Peru e Caribe têm sido generosos ao receber os venezuelanos, mas estão cada vez mais sobrecarregados, chegando a um ponto de saturação. Soma-se a isso a problemática burocrática das fronteiras: a documentação trazida pelos refugiados é muitas vezes irregular ou insuficiente. Assim, a travessia clandestina torna-se muito comum, sendo uma possibilidade de, ilegalmente, burlar tal problema e conseguir refúgio mais rapidamente.
Para se aprofundar na situação na Venezuela, acesse o artigo: https://laibl.com.br/eleicoes-na-venezuela/

Caso da Ucrânia
O caso ucraniano tem grande notoriedade por envolver nações de considerável peso geopolítico, como a Rússia e os membros da Otan. Assim, pode-se questionar a desproporcional atenção dada pela mídia a esse caso em relação aos demais. Enquanto a Guerra da Ucrânia e sua respectiva crise migratória contaram com extensa cobertura midiática desde seu primeiro dia, conflitos como o do Sudão parecem estar fora do radar do interesse internacional.
Ainda assim, os números são preocupantes: desde a invasão russa, em fevereiro de 2022, mais de 7,8 milhões de refugiados ucranianos se espalharam pela Europa, sendo grande parte mulheres e crianças. Dentre os destinos mais comuns, encontram-se países vizinhos, como Polônia, Romênia, Alemanha, e, controversamente, a própria Rússia, visto que uma parcela da população do território se autodeclara de origem russa e apoia parte da perspectiva e planos de Putin.
Para se aprofundar na situação na Ucrânia, acesse o artigo: https://laibl.com.br/camara-dos-eua-aprova-tardiamente-pacote-de-ajuda-a-ucrania/
Caso do Sudão
O Sudão tem vivido uma série de tragédias que perduram até hoje, mas caíram em esquecimento. Depois de viver a mais longa guerra civil da história africana, o povo sudanês voltou a viver sob fogo cruzado em 2023, com indícios de limpeza étnica, pela disputa entre as Forças Armadas Sudanesas (FAS) e grupo paramilitar das Forças de Apoio Rápido (RSF). Até abril do ano passado, o número de sudaneses forçados a fugir já ultrapassava 8,5 milhões de pessoas.
Por ser localizado entre países também com dificuldades internas, as migrações não são fáceis. Apesar de quase 37% da sua população de 2024 viver na pobreza extrema, Chade recebeu o maior influxo de pessoas refugiadas em sua história, com aproximadamente 900.000 pessoas até o final do mesmo ano. Também são destinos comuns o Egito, com média de 2.000 a 3.000 refugiados diários, Etiópia, Uganda e República Centro-Africana. Além disso, mais de 150.000 permanecem em alocações provisórias fronteiriças, sob condições desumanas, devido à falta de auxílio internacional e superlotações.
Para se aprofundar na situação do Sudão, acesse o artigo https://laibl.com.br/a-ruptura-etnica-no-sudao/
Questão climática
Nos últimos anos, entretanto, também nasce um fluxo migratório de atenção urgente: a fuga de crises climáticas. Até 2050, segundo o Banco Mundial, estima-se que 86 milhões de pessoas terão de abandonar suas moradas na África Subsaariana, dado seguido pelos 49 milhões no Leste Asiático e Pacífico. Dentre as causas, por um lado, destaca-se o estresse térmico, escassez de água e baixa produtividade das terras e, por outros, intensas chuvas e aumento do nível do mar. Hoje, o governo de Tuvalu já mantém um arquivo digital de sua população para a história do país não se perder conforme a ilha é submersa.
Para se aprofundar na questão climática, acesse o artigo: https://laibl.com.br/mudancas-climaticas-uma-revisao-do-passado-ao-futuro/
Justificativas e consequências sobre a resistência contra a imigração
A resistência à imigração tem crescido no século XXI, e é um grande assunto de discussão política no globo. O discurso anti-imigração tem ganhado adesão popular e destaque nas propostas de partidos de extrema direita, que atribuem diversos problemas contemporâneos ao aumento do fluxo imigratório nos seus países. Em especial, as críticas a esse processo são focadas em três grandes núcleos, a economia, a configuração cultural e a segurança.
Crise econômica: Grande parte dos discursos de grupos opostos à imigração utiliza como respaldo as dificuldades e crises econômicas que afligem os países destinatários. De acordo com essa visão, os imigrantes tomam os empregos e benefícios que deveriam ser destinados a cidadãos nativos do país, como é o caso da previdência social. Em outras palavras, os imigrantes estariam se apropriando de recursos estatais e prejudicando a economia.
Desconfiguração cultural: Outro ponto de crítica à imigração se refere à identidade nacional do país destinatário. Nesse caso, a resistência à imigração se manifesta através de uma perspectiva nacionalista e protecionista, que busca conservar a todo o custo a cultura, os costumes e a forma de vida de sua população nativa. Desta forma, o alto fluxo de imigrantes de outros países com culturas, religiões e costumes diversos é vista como uma ameaça à identidade e aos valores nacionais.
Segurança pública: Por fim, a segurança também é utilizada como justificativa para a resistência à imigração, principalmente por parte de partidos de extrema direita. Esses grupos vem imigrantes como uma ameaça à ordem e à proteção da população nativa, baseando-se especificamente no caso de refugiados ou imigrantes sem a devida documentação. Eles alegam que tais indivíduos, por não serem regularizados perante o sistema jurídico do país, são mais propensos a cometer crimes, trazendo riscos aos cidadãos.
Tais justificativas, porém, tratam-se de uma ultra simplificação de problemas da sociedade contemporânea. Ao atribuir as dificuldades resultantes de uma complexa dinâmica político-econômica aos imigrantes, um inimigo nacional interno surge, assim, excluí-los ou deportá-los é uma solução clara e direta para a população contrária ao fenômeno. Desta maneira, o discurso anti-imigração passa a ser utilizado como ferramenta de mobilização política da extrema direita para ganhar votos e apoio político.
Consequentemente, os imigrantes sofrem com discursos xenófobos que impedem ainda mais sua inserção na sociedade. Essa forma de preconceito propaga ódio e aversão aos estrangeiros, que são subjugados, estereotipados e culpabilizados por qualquer adversidade socioeconômica que o país destino enfrenta. A partir disso, os imigrantes, marginalizados, encontram dificuldade no acesso à serviços básicos como saúde, educação e moradia, além de serem excluídos do mercado de trabalho, exercendo tarefas informais e precárias para se sustentar financeiramente.
É importante ressaltar que mesmo rejeitados, os imigrantes contribuem econômica e mercadologicamente com os países destino. Assim, sua deportação em massa pode acarretar em déficit de mão de obra, principalmente em países desenvolvidos que sofrem com o envelhecimento populacional e/ou baixa natalidade, a exemplo do Japão, país com a população mais velha em todo o globo em termos de proporção de idosos.
Exemplos de Movimentos Político Contra a Imigração
Estados Unidos (Donald Trump)
Desde sua primeira campanha eleitoral em 2016, o discurso anti imigração tem sido muito presente na retórica de Donald Trump. Na sua primeira disputa presidencialista, o candidato teve como sua maior proposta a construção de um muro entre a fronteira dos EUA e do México, com o objetivo de dificultar a entrada de imigrantes mexicanos no país. Sua oposição a imigração se baseia principalmente nas esferas da economia, no caso do mantimento de empregos para estadunidenses, e da segurança, focando na questão dos perigos trazidos por imigrantes não documentados.
Atualmente, o presidente americano ainda se mantém firme em seus ideais resistentes a imigração, com ele tendo proferido diversos discursos de cunho xenofóbico em debates presidenciais em 2024, como o que o republicano afirmou que os imigrantes estavam comendo bichos de estimação em Springfield. Esses ideais se refletiram nas primeiras ações de Trump como presidente, com ele aprovando movimentos de deportação em massa, projetos de fortalecimento da fronteira entre EUA e o México e expansão dos poderes do ICE (Serviço de Imigração de Alfândega).
Parlamento Europeu
As eleições de deputados para o parlamento europeu da União Europeia de 2024 demonstraram um grande aumento de partidos de extrema direita com políticas anti imigração. O partido de extrema direita “Irmãos da Itália” venceu a maioria dos votos no país, assim como o Comício Nacional na França e o Partido de Liberdade da Áustria. Além disso, o AfD (Alternativa para Alemanha) aumentou consideravelmente o seu número de votos, sendo o segundo partido mais votado. Em um geral, a quantidade de cadeiras de partidos de extrema direita que se opõem à imigração subiu de 118 para 131 no parlamento europeu, demonstrando o aumento da resistência a movimentos migratórios na Europa.
Questões de vestibulares
(UNESP-2018)
Examine o gráfico.

Na análise dos movimentos migratórios ao Brasil, o gráfico expressa os impactos
- da Lei de Cotas em II, com o controle sobre a entrada de estrangeiros, para evitar o aumento do desemprego no país.
- da Primeira Guerra Mundial em III, com o desinteresse pelo país devido à oposição à Tríplice Aliança.
- das leis de redução e abolição da escravatura em I, com o incentivo à vinda de imigrantes para compor a mão de obra nas fazendas cafeeiras.
- da Segunda Guerra Mundial em IV, com a interrupção no fluxo de imigrantes alemães a partir da adesão brasileira ao Eixo.
- do regime militar em V, com o combate à entrada de latino-americanos, em prol da europeização da sociedade brasileira.
Resolução
a) Incorreta. Não é possível relacionar o item II à Lei de Cotas, já que esta foi aprovada em 1934, durante a Era Vargas. Tal legislação buscava restringir o acesso de imigrantes ao Brasil, garantindo “a integração étnica e a capacidade física e civil do imigrante”. Entre as medidas adotadas por tal legislação, a mais importante foi limitar à cada nacionalidade a entrada de apenas dois por cento do número total da população oriunda daquele país que já estivesse fixada no Brasil por cinquenta anos anteriores à lei. A medida buscava reforçar a construção do discurso e do sentimento nacionalista da Era Vargas, além de se somar às perseguições e acusações aos estrangeiros, frequentemente associados às atividades “subversivas” e antinacionais. O item II é mais precisamente relacionado à eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), que reduziu a vinda de imigrantes ao Brasil durante seus acontecimentos, bem como o crescimento do fluxo de migrantes na crise do pós-guerra.
b) Incorreta. A Primeira Guerra Mundial aconteceu entre 1914 e 1918, relacionando-se ao contexto do item II e não do item III. O contexto do tema III relaciona-se às políticas nacionalistas da Era Vargas, à crise de 1929 e seus efeitos na economia mundial e, no Brasil, à crise da cafeicultura brasileira.
c) Correta. A década de 1880 foi marcada por um forte aumento do fluxo de imigrantes no Brasil, associada à prática da “imigração subvencionada”. Com o avanço dos debates e da legislação abolicionista, a necessidade da mão de obra imigrante para a lavoura tornava-se cada vez mais importante. Para garantir a vinda destes imigrantes, o poder público paulista passa a adotar a prática de subvenção da imigração, isto é, o próprio governo arcava com os custos da propaganda e do translado destes trabalhadores para a distribuição na lavoura.
d) Incorreta. Ainda que esteja corretamente contextualizada, o Brasil não adere ao Eixo, mas sim aos Aliados na Segunda Guerra Mundial. Durante a participação no conflito, os episódios de repressão aos alemães, italianos e japoneses se intensificam no Brasil, ainda que não haja uma expressa e efetiva proibição institucional da imigração.
e) Incorreta. Não é correto afirmar que o regime militar implantou uma política de europeização da sociedade em detrimento da imigração latino-americana. Vale ressaltar que a ditadura mantinha diálogo e cooperação com outras ditaduras latino-americanas, buscando a cooperação no combate aos opositores políticos e até mesmo a restrição e expulsão a refugiados. Contudo, no que se refere à imigração, é incorreto afirmar que o regime em questão coibiu especificamente a imigração latino-americana.
(Fonte: Elite Campinas)
(UNESP-2025)
Curta brasileiro “Amarela” concorre à Palma de Ouro no Festival de Cannes:

O curta-metragem “Amarela”, escrito e dirigido pelo nipo-brasileiro André Hayato Saito, passa-se em São Paulo e é estabelecido durante a final da Copa do Mundo de 1998, entre Brasil e França. A protagonista é Erika Oguihara (Melissa Uehara), uma adolescente nipo-brasileira que rejeita as tradições de sua família japonesa. A luta contra o sentimento de não pertencimento se aflora quando é confrontada por uma violência despercebida pela maioria. “Eu costumo falar sobre a questão de ser japonês demais para ser brasileiro e brasileiro demais para ser japonês. Sofri muito bullying sendo afirmado como ‘japinha’, ‘samurai’, ‘ninja’; e me sentia só, não me sentia visto”, diz Saito. “Receber essas tarjas é ignorar a história e a individualidade de cada um. O famoso ‘japonês é tudo igual’ é imensamente ofensivo e esses traumas reverberam até hoje. O filme vem para trazer essas questões identitárias que tanto fervilham dentro de mim e dentro de milhões de filhos de diásporas globais, para uma reflexão mais ampla”, comenta o diretor.
(https://bravo.abril.com.br, 14.05.2024. Adaptado.)
a) Apresente o interesse econômico do Brasil pela migração japonesa no século XX e cite uma contribuição cultural dos imigrantes japoneses à sociedade brasileira.
b) Defina “diáspora” e explique como ela pode se relacionar com episódios de xenofobia, como os relatados no excerto.
Resolução
a) A imigração japonesa para o Brasil tem sua origem no início do século XX, mais precisamente em 1908, e foi inaugurada pela chegada do navio Kasato Maru, o primeiro a transportar imigrantes japoneses para o Brasil, desembarcando em Santos com cerca de 780 imigrantes a bordo.
Do ponto de vista brasileiro, o principal interesse nessa imigração era a aquisição de mão de obra para impulsionar o setor agrícola, especialmente nas plantações de café. O contexto da necessidade de tal mão de obra se relaciona a dois aspectos principais:
1) Declínio do uso de mão de obra escravizada: com a abolição da escravatura em 1888, o Brasil passava por uma escassez de mão de obra para trabalhar nas lavouras, principalmente nas grandes propriedades cafeeiras;
2) Expansão das plantações de café: o café era o principal produto de exportação do país na época e a demanda por mão de obra para expandir as plantações era crescente.
É válido ressaltar que o governo brasileiro e o japonês firmaram acordos que facilitavam tal imigração, como o transporte dos imigrantes e a concessão de terras para cultivo, o que contribuiu para tornar o Brasil o país com a segunda maior quantidade de japoneses no mundo (excetuando-se apenas o Japão). Dessa forma, a mão de obra japonesa contribuiu significativamente para o aumento da produção de café, mas esses imigrantes também introduziram novas culturas e técnicas agrícolas, diversificando a produção e contribuindo para o desenvolvimento do país.
Do ponto de vista cultural, os japoneses trouxeram contribuições que se disseminaram de maneira significativa em diversos setores da sociedade – ao vestibulando, bastaria citar uma das contribuições a seguir – sendo os principais exemplos relacionados à culinária/alimentação (sushi, sashimi, tempura, yakisoba, ramen, wasabi), às artes marciais (jiu-jitsu, karatê e judô), à arte/artesanato (técnicas de jardinagem, como o bonsai) e às produções literárias e audiovisuais (mangás e animes).
b) Diáspora é um termo utilizado para descrever a dispersão de grande quantidade de pessoas de uma região de origem para diferentes partes do mundo. Essa dispersão pode ocorrer por diversos motivos, como guerras, perseguições religiosas, catástrofes naturais ou busca por melhores condições de vida.
As diferenças culturais entre os imigrantes e a população local podem gerar desconfiança e preconceito. Costumes, crenças e valores diferentes podem ser vistos como ameaças à identidade cultural local ou ainda gerar percepções estereotipadas e episódios de xenofobia, sendo atribuídas aos imigrantes características negativas e generalizadas (como aquelas retratadas no texto do enunciado).
(Fonte: Elite Campinas)
Fontes:
https://www.acnur.org/br/media/migracoes-refugio-e-apatridia-guia-para-comunicadores
https://www.acnur.org/br/dados-refugiados-no-brasil-e-no-mundo
https://www.acnur.org/br/emergencias/siria
https://www.acnur.org/br/emergencias/venezuela
https://www.worldbank.org/en/country/chad/overview
https://www.metropoles.com/mundo/governo-trump-oferece-us-1-mil-para-o-imigrante-que-deixar-os-eua
Acordo de minerais: O que se sabe sobre entendimento entre EUA e Ucrânia
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/04/16/harvard-autorizacao-estudantes-estrangeiros.ghtml
harvard-autorizacao-estudantes-estrangeiros.ghtml
Parlamento aprova lei para pacificação de Moçambique
Share this content: