As faces do extremismo britânico: A ultradireita em perspectiva
As últimas semanas inglesas
No dia 29 de julho, três meninas com idades entre seis e nove anos foram mortas a facadas em uma cidade no litoral norte da Inglaterra, Southport. No mesmo ataque, que aconteceu em um evento de dança, mais oito crianças e dois adultos ficaram feridos. O acusado pelo crime foi um jovem de 17 anos, Alex Rudakubana, nascido no País de Gales e filho de ruandeses.
Rapidamente após a nomeação do suspeito pelo juiz do caso, notícias falsas e rumores passaram a circular nas redes sociais dos meios britânicos, inclusive de que Alex era um imigrante mulçumano não documentado. Posteriormente, esses rumores, desmentidos pelo governo, foram utilizados como pretexto da extrema-direita britânica para tomar as ruas em atos de protestos anti-imigração e anti-islamismo.
Na terça-feira do dia 30, cerca de 200 pessoas foram em direção a Southport, vindas de diversos locais da Grã-Bretanha, a fim de protestar e causar tumulto nas ruas da cidade. Os manifestantes organizaram-se por meio de apps como X, antigo Twitter, e Telegram, e atacaram uma mesquita, feriram mais de cinquenta policiais e incendiaram veículos. Também no dia 30, os ativistas juntaram-se em frente ao escritório do primeiro-ministro Keir Starmer localizado em Londres, e os protestos resultaram em aproximadamente 100 prisões.
Forças policiais buscando conter protestos em Southport, na terça-feira. Fonte: Getty Images.
Após Southport, mais ataques foram organizados através das redes sociais e protestos eclodiram em diversas cidades da Inglaterra. Mesquitas e outros centros religiosos, estabelecimentos que abrigam refugiados e comércios em bairros mulçumanos e até mesmo chineses foram atacados. Dentre as frases mais enunciadas pelos manifestantes, “stop de boats” ou “parem os botes”, foi um dos lemas utilizados a fim de evocar sentimentos xenofóbicos e clamar pela contenção da imigração no Reino Unido.
Os ativistas da extrema direita argumentam que o aumento da imigração no Reino Unido associado a falta de controle governamental tem como consequência o crescimento da violência e do crime, afirmando que esse processo resulta em um maior risco para mulheres e crianças. Somado a isso, eles acusam a polícia e as forças estatais a favorecerem ativistas de esquerda ou manifestações que reivindicam a defesa de direitos humanos, tal como os protestos “Black Lives Matters” de 2020.
Protestantes clamam pela redução da imigração. Fonte: Hollie Adams/Reuters – 04.AGO.2024
Os Ecos do Brexit e o Nacionalismo Britânico
A Inglaterra, assim como outros países europeus, têm enfrentado um recrudescimento de movimentos de extrema-direita e ultranacionalistas. Esse fenômeno é marcado por um aumento de discursos xenofóbicos, atos de violência contra minorias e ataques ao pluralismo democrático. As raízes dessa onda reacionária estão profundamente ligadas ao cenário político britânico dos últimos anos, particularmente ao Brexit e ao processo eleitoral que culminou na escolha de líderes como Boris Johnson e Rishi Sunak. A ascensão desses líderes, longe de ser um fenômeno isolado, está conectada às dinâmicas que impulsionam a radicalização e a polarização na sociedade britânica.
A origem dessa violência de extrema-direita vista na Inglaterra nas últimas semanas de julho e início de agosto de 2024, pode ser traçada a um conjunto de fatores, onde se misturam crises econômicas, identitárias e culturais. A narrativa em torno do Brexit foi um catalisador fundamental. A campanha a favor da saída da União Europeia capitalizou o descontentamento de parcelas da população que se sentiam abandonadas pela globalização e pelo “establishment” político. Os discursos sobre “recuperar o controle” e “proteger a identidade britânica” ressoaram profundamente em regiões que já sofriam com desemprego, baixos salários e desindustrialização. A promessa de um retorno à grandeza perdida da Inglaterra imperial, sem a interferência de Bruxelas, ofereceu uma narrativa estimulante para aqueles que se viam marginalizados e inseguros.
Protestos contra o Brexit na Inglaterra. Fonte: The Guardian
É nesse contexto que as eleições para primeiro-ministro no Reino Unido se tornam um ponto de inflexão. A escolha de Boris Johnson em 2019 e, posteriormente, de Liz Truss e Rishi Sunak, reflete a atmosfera de polarização e radicalização. A retórica de Johnson, que frequentemente flertava com o discurso antielitista e nacionalista, não apenas alimentou, mas normalizou certos elementos da extrema-direita.
O Partido Conservador, em busca de manter o poder, compartilhou esses sentimentos. Durante as disputas internas para a liderança do partido, viu-se uma competição acirrada para ver quem conseguiria se apresentar como o candidato mais alinhado aos valores tradicionais britânicos, sempre com um olhar crítico para a imigração e as questões identitárias. O movimento para disseminar os ideais partilhados pela ultra-direita dentro do partido se tornou visível tanto nos discursos quanto nas propostas políticas, evidenciando a permeabilidade entre o conservadorismo britânico tradicional e os discursos mais radicais.
O impacto das eleições na Grã- Bretanha vai além da escolha de líderes. Elas foram o reflexo de uma sociedade dividida, onde a política identitária e o medo do ‘outro’ passaram a ser instrumentos poderosos para mobilizar o eleitorado. O Brexit, ao colocar a questão da imigração no centro do debate, abriu espaço para que a extrema-direita ganhasse terreno. A imigração foi apresentada como uma ameaça à identidade cultural e econômica britânica, fomentando um sentimento de perda e insegurança entre certos segmentos da população. Nesse cenário, a retórica xenófoba, ao focar na suposta incompatibilidade cultural dos imigrantes e no impacto negativo que teriam sobre os serviços públicos, contribuiu para alimentar um discurso de exclusão. Esse discurso reforçou a percepção de que o estrangeiro — geralmente imigrantes e refugiados — era responsável por uma série de problemas sociais e econômicos, do desemprego à sobrecarga dos serviços de saúde.
Ainda que de forma indireta, os processos eleitorais acabaram validando essa narrativa ao promover a ideia de que as elites políticas haviam falhado em proteger a identidade e a cultura britânica. Com isso, a xenofobia deixou de ser um tabu e se tornou uma estratégia política explícita, legitimada por líderes que utilizaram o sentimento de perda identitária como ferramenta de mobilização eleitoral. A defesa da identidade nacional, portanto, tornou-se sinônimo de rejeição ao ‘outro’, alimentando uma polarização que dividiu ainda mais a sociedade.
Da tradição a radicalização
O desenvolvimento histórico da extrema-direita na Inglaterra é marcado por grupos como o British National Party (BNP) e movimentos mais recentes, como o UKIP, que, embora inicialmente marginais, passaram a ter maior relevância à medida que o sentimento antieuropeu e anti-imigração cresceu. A defesa de um nacionalismo étnico, de uma “pureza” britânica, e a hostilidade a qualquer mudança demográfica e cultural foram, por muito tempo, ideias relegadas a grupos minoritários, mas que encontraram uma nova legitimidade no debate político mainstream pós-Brexit.
Ao observar como a extrema-direita se entrelaça com o processo eleitoral, fica claro que as eleições para primeiro-ministro não só refletem a presença dessas ideologias, mas também as reforçam. A eleição de figuras como Boris Johnson foi, de certo modo, um sinal verde para discursos que outrora seriam considerados extremistas. Políticas voltadas para limitar a imigração, reforçar os “valores tradicionais” e combater o multiculturalismo foram empurradas para o centro das discussões, ajudando a legitimar o crescimento de grupos que antes atuavam à margem.
As eleições de 2024
Em 2024, o governo enfrentava uma crescente pressão tanto interna quanto externa, em um cenário de volatilidade econômica exacerbada por crises energéticas e tensões comerciais pós-Brexit. Além disso, divisões dentro do próprio partido governista geraram instabilidade, com desafios à liderança e uma base parlamentar fragmentada. Diante da deterioração da confiança popular e da incapacidade de aprovar políticas estratégicas, a decisão de adiantar as eleições se apresentou como uma tentativa de restaurar a legitimidade política e estabilizar o governo frente a um contexto turbulento e, assim, Sunak perdeu o seu cargo.
Com efeito, a vitória de Keir Starmer como primeiro-ministro do Reino Unido, marca uma virada significativa na política britânica. Após mais de uma década de domínio conservador, Starmer, líder do Partido Trabalhista, conseguiu consolidar uma ampla base de apoio, prometendo restaurar a confiança nas instituições e revitalizar o país em um contexto de instabilidade política e econômica. A ascensão de Starmer reflete tanto uma resposta ao cansaço com o governo conservador quanto a busca por uma alternativa de centro-esquerda mais pragmática e moderada em comparação com seus antecessores trabalhistas. Sua liderança no Partido Trabalhista trouxe um realinhamento ideológico, afastando-se das políticas mais radicais e focando em uma plataforma moderada, capaz de atrair tanto os eleitores tradicionais da classe trabalhadora quanto os setores urbanos e liberais.
As proposta de Starmer
O atual primeiro-ministro britânico posicionou o Partido Trabalhista como uma alternativa viável para os olhos do povo inglês, comprometendo-se a combater a desigualdade ao mesmo tempo em que prometeu manter a disciplina fiscal. Em sua campanha, ele enfatizou a necessidade de reconstruir o Reino Unido após os anos tumultuosos do Brexit e da pandemia, focando em temas como o fortalecimento do NHS (sistema de saúde pública), a melhoria das condições de trabalho e a revitalização das áreas mais afetadas pela desindustrialização. Ideologicamente, Starmer buscou um equilíbrio entre a tradição social-democrata do Partido Trabalhista e uma abordagem mais centrista, similar ao “Novo Trabalhismo” de Tony Blair, embora com maior ênfase em políticas ambientais e de inclusão social. Seu compromisso com questões como a transição verde, com investimentos em energias renováveis e criação de empregos sustentáveis, reflete uma tentativa de modernizar a economia britânica em sintonia com as demandas globais por ação climática.
Os desdobramentos dessa vitória são significativos tanto internamente quanto no cenário internacional. No plano doméstico, Starmer enfrenta o desafio de unificar um país ainda dividido pelas questões identitárias e regionais, especialmente em relação à Escócia, onde o movimento independentista continua forte. Seu governo terá que lidar com as cicatrizes deixadas pelo Brexit, buscando renegociar certas condições com a União Europeia para aliviar os impactos econômicos enquanto tenta pacificar os setores mais nacionalistas do eleitorado britânico. Dentro do Partido Trabalhista o impacto da vitória é nítido, haja vista que, sob sua liderança, parece ter recuperado parte do eleitorado perdido para os conservadores nas últimas eleições. A capacidade de Starmer em construir uma coalizão diversa de eleitores, que vai desde os trabalhadores industriais até os jovens urbanos progressistas, foi crucial para sua vitória e continua a ser essencial para a governabilidade.
Já no plano internacional, a vitória de Starmer sinaliza uma mudança na postura do Reino Unido em relação à Europa e ao mundo. Embora não se espere uma reversão do Brexit, seu governo promete uma abordagem mais cooperativa com os parceiros europeus, especialmente em áreas como comércio, segurança e mudança climática. Além disso, Starmer tem ressaltado o compromisso do Reino Unido com o multilateralismo, buscando fortalecer alianças tradicionais e restabelecer a credibilidade britânica em fóruns globais.
De volta aos protestos: a reação do primeiro ministro
Keir Starmer, anunciou uma reunião de emergência no dia 5 de agosto por conta dos atos violentos, os quais ele descreveu como “vandalismo”. A reunião contou com a participação de importantes membros do governo britânico, incluindo ministros, policiais e chefes de inteligência, e resultou na intensificação da justiça criminal e dos esforços objetivando identificar os indivíduos envolvidos.
Como consequência, o Conselho Nacional de Chefes de Polícia declarou recentemente que mais de mil pessoas foram presas ao longo das últimas semanas como resultado das mobilizações da extrema-direita, dentre elas, um menino de 11 anos. Além disso, uma menina de 13 anos foi vista chutando e atacando um local que abriga requerentes de asilo – pessoas que buscam proteção internacional a fim de serem caracterizadas formalmente como refugiadas pelo país de destino – no dia 31 de julho, e se declarou culpada de desordem violenta.
Somado a isso, o governo anunciou que passaria a investigar a atuação de indivíduos nas redes sociais em vista do compartilhamento de informações falsas e discursos de ódio pautados em intolerância e discriminação. Nessa conjuntura, o ministro da Ciência britânico encontrou-se com representantes de redes sociais que estiveram diretamente ligadas aos ataques recentes, tais como X, Tiktok e Meta, a fim de garantir que medidas que possam auxiliar o governo britânico em meio a essa crise a fim de impedir a disseminação de notícias falsas sejam colocadas em prática.
A preocupação do premiê é justificada e advém também do amplo alcance que os protestos obtiveram, tendo em vista que ondas de violência e manifestações ocorreram desde Manchester, no noroeste da Inglaterra, até Belfast, na Irlanda do Norte.
Distribuição dos protestos no Reino Unido. Fonte: Rachel Wilson, CNN.
Quem protestou
As ondas de violência que recentemente abalaram a Grã-Bretanha são consideradas por especialistas como um processo descentralizado e mobilizado por diferentes setores da direita, que utilizam das redes como meio principal de disseminação de informações falsas e discursos de ódio. Nesse sentido, além da direita radical, cabe também mencionar que muitos indivíduos que juntam-se aos protestos não compactuam com visões extremistas, mas são atraídos aos atos de violência por conta das falsas alegações compartilhadas nos meios de comunicação.
Desse modo, os recém protestos e as falsas informações compartilhadas nas redes são processos também provocados por membros de associações políticas de direita radical que mobilizam-se e coordenam incitações a violência ou mobilizações de cunho xenofóbico a anos no Reino Unido,. Dentre elas, destacam-se “O Movimento Britânico”, “Alternativa Patriótica”, e “Liga de Defesa Inglesa”, sendo o último o grupo de maior destaque na última década e tido como especialmente presente nas mobilizações das últimas semanas, mesmo que por meio de personalidades que atuam isoladamente, em vista do desligamento oficial das atividades do grupo na segunda metade da década de 2010.
A Liga de Defesa (ou ataque) Inglesa
A Liga de Defesa Inglesa destaca-se especialmente na atual conjuntura dos protestos por conta da xenofobia e intolerância religiosa que pautam suas alegações e atitudes desde que foi fundada em 2009. Embora não esteja formalmente atuando desde alguns anos atrás, personalidades que faziam parte dessa associação política foram vistas participando ativamente das mobilizações..
A associação foi fundada na cidade de Luton, na Inglaterra, após um grupo de extremistas islâmicos serem acusados e posteriormente condenados por ofensa à ordem pública após insultarem e assediarem verbalmente um grupo de soldados recém chegados do Iraque em março de 2009. Além disso, na cidade residiam membros do grupo extremista islâmico Al Muhajiroun, o que também serviu de pretexto para a formação da Liga de Defesa Inglesa na época.
Redes sociais e desinformação
A nova onda de protestos foi especialmente provocada por usuários de extrema direita que utilizam das redes sociais como forma de atingir o público com maior alcance possível a fim de mobilizar os indivíduos por meio dos discursos intolerantes e permeados de notícias falsas que objetivam evocar sentimentos de ódio. No caso dos protestos no Reino Unido, redes como o Whatsapp e o Telegram foram especialmente utilizadas a fim de espalhar os locais e os horários planejados para os atos de violência.
Dentre os agentes que evocaram sentimentos xenofóbicos, Tommy Robinson, que ajudou a fundar a Liga de Defesa Inglesa e já foi um dos seus líderes, gerou alarde e manifestou-se ativamente nas redes, com destaque para o X, onde teve sua conta banida em 2018 em vista de sua “conduta odiosa” e recentemente, reativada, após Elon Musk assumir a rede social. A plataforma de Elon Musk atualmente vem sendo alvo de muitas críticas acerca da irresponsabilidade na sua forma de lidar com usuários que evocam formas de intolerância e preconceito, além de permitir a circulação irrefreável de notícias falsas, a exemplo do retorno da conta de Robinson.
Tommy Robinson, antigo líder e fundador da Liga da Defesa Inglesa. Fonte: PA / Cordon Press.
Um exemplo claro da disseminação de informações falsas nas redes de forma deliberada e instrumentalizada foi a publicação de Andrew Tate no X, no qual o autoproclamado misógino compartilhou um vídeo afirmando que as facadas que resultou na morte de três crianças e ferimentos graves em mais dez pessoas em Southport foram causadas por um “imigrante não documentado”, embora tenha sido comprovado pelas autoridades que Alex Rudakubana é galês.
Essa falta de responsabilidade das redes sociais com relação ao conteúdo nelas produzido e compartilhado está diretamente relacionado ao aumento das mobilizações da extrema-direita, tal como vem ocorrendo no Reino Unido. Nesse contexto, a ampliação do uso desses meios de comunicação como forma de organização de movimentos violentos torna mais complicado o trabalho da polícia em sua busca por responsáveis, em vista da descentralização da liderança e da nova dinâmica de organização desses atos criminosos, pautado em ausência de hierarquias e estruturas definidas.
Fontes
- https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/mais-de-mil-pessoas-sao-presas-apos-protestos-no-reino-unido-diz-policia/
- https://www.bbc.com/portuguese/articles/c25llg10082o
- https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/entenda-os-protestos-da-extrema-direita-britanica-e-quem-esta-por-tras-deles/
- https://www.nexojornal.com.br/expresso/2024/08/07/o-que-move-a-violencia-da-extrema-direita-no-reino-unido
- https://www.bbc.com/news/articles/cx2n8pzk7gzo
- https://edition.cnn.com/2024/08/05/uk/uk-far-right-protests-explainer-gbr-intl/index.html
- https://www.nytimes.com/2024/08/03/world/europe/uk-stabbing-riots-far-right-protesters-explained.htm
- https://www.theguardian.com/uk/2010/jan/11/luton-guilty-soldiers-baby-killers
- https://www.bbc.com/portuguese/articles/cn05724nvd1o
- https://g1.globo.com/mundo/noticia/2024/07/04/eleicoes-no-reino-unido-divisao-do-parlamento.ghtml
- https://g1.globo.com/mundo/noticia/2024/07/04/eleicao-no-reino-unido-acontece-nesta-quinta-centro-esquerda-e-favorita-para-conquistar-maioria-e-indicar-primeiro-ministro.ghtml#questoes
- https://www.bbc.com/portuguese/articles/c51yd71yedwo
- https://outraspalavras.net/outrasmidias/reino-unido-os-desafios-do-trabalhistas-apos-a-vitoria/
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