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Camboja: 50 Anos de um Genocídio

Camboja: 50 Anos de um Genocídio

Por Carolina Astúa e Cecília Chalela

No ano fatídico de 1975, o Khmer Vermelho — grupo que compunha o Partido Comunista da Kampuchea — alcançou o sucesso de sua guerrilha contra o regime opressor de Lon Nol e instaurou, com apoio popular e após longos anos de conflitos armados e de instabilidade política no Camboja, um novo regime sob a liderança de figuras emblemáticas, dentre elas Pol Pot. O que não se esperava era que esse momento histórico viria a corresponder a um dos períodos mais sangrentos da memória coletiva do povo cambojano.

Novos Tempos, Antigos Embates: As Políticas Tarifárias de Trump e o Apelo Chinês ao Camboja

No dia 17 de abril de 2025, exatos 50 anos após a rendição da capital e da instauração definitiva do regime do Khmer Vermelho no Camboja, Xi Jinping desembarcou na cidade de Phnom Penh e apertou sorridente as mãos do rei Norodom Sihamoni, primogênito do rei Sihanouk.

O encontro de governantes, ocorrido em meio à pompa de uma cerimônia militar, marcou — depois de passagens pela Malásia e pelo Vietnã — o fim da turnê do presidente da China pela região do Sudoeste asiático, e envolveu, ainda, o primeiro-ministro local Hun Manet e o presidente do Senado Samdech Techo Hun Sen.

A escolha da principal cidade cambojana como destino final não é mera coincidência: após tentativas diplomáticas de negociação das tarifas e da obtenção de resultados pouco satisfatórios, iniciativas recentes de Pequim apontam para uma mudança de estratégia no que se refere ao enfrentamento da guerra comercial iniciada por Donald Trump. Para tanto, os chineses têm adotado uma postura de crescente aproximação aos Estados vizinhos, em busca de coalizões contra-hegemônicas. Nesse caso, os importantes laços militares e os amplos investimentos chineses no Camboja, bem como a taxação de 49%  imposta pelos americanos, além de que grande parte de suas exportações são destinadas a empresas chinesas sediadas nos EUA e, finalmente, de que um terço de sua dívida externa é devida à China, certamente foram fatores que contribuíram para uma recepção calorosa e aberta a negociações.

Segundo as palavras do próprio Hun Manet, o “respeito pela soberania, pela igualdade e pela não interferência em questões internas” sustenta os interesses mútuos entre sua terra natal e a China, tendo sido esta responsável por desempenhar um “papel crucial” no desenvolvimento social e econômico do Camboja. Xi Jinping, por sua vez, afirmou que esse vínculo bilateral tem persistido diante das mudanças nas dinâmicas globais, e reforçou seu apoio à manutenção da independência política do país.

De fato, as relações agridoces entre a China, os Estados Unidos e o Camboja não representam uma novidade no mundo internacional. Pelo contrário, as três nações foram determinantes nos eventos históricos que resultaram em um período turbulento e obscuro da história cambojana. Dessa forma os acontecimentos das últimas semanas reabrem as velhas feridas dos embates ideológicos do século XX.

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O presidente chinês Xi Jinping posa junto ao primeiro-ministro cambojano Hun Manet no Palácio da Paz de Phnom Penh, 17 de abril de 2025. Fonte: Xinhua/Liu Weibing

Da Década de 40 à Década de 60: Entre o Imperialismo, a Guerra Fria e as Tensões Nacionais

  • A Década de 40 e o Domínio Francês

A história do Camboja como nação é complexa e milenar, mas pode-se dizer que, de maneira mais direta, a cadeia de eventos que resultou no fortalecimento do Khmer Vermelho começou a se definir no mês de abril de 1941, com a morte do rei Monivong. Na época, o país encontrava-se subjugado pelo imperialismo francês, o qual começou com a assinatura de um acordo em meados do século XIX e se intensificou com o passar do tempo.

Aproveitando-se da morte do soberano, os franceses apressaram-se em vetar a posse do Príncipe Monireth, filho do monarca falecido, e em ocupar o cargo com um sucessor de seu interesse. Tratava-se do inexperiente Príncipe Norodom Sihanouk, de apenas 18 anos.

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Príncipe Norodom Sihanouk em sua coroação. Fonte: Wikipedia/Royal Palace of Cambodia

O que aconteceu em seguida, porém, frustrou as expectativas francesas: o Japão não tardou em invadir o Camboja e, depois de quatro anos de coexistência com a França nesse território, tramou um golpe – permitiu que fosse proclamada, pelo rei Sihanouk, a República Independente da Kampuchea, e que fosse restituído o alfabeto Khmer.

Com a derrota do Eixo na Segunda Guerra Mundial, em outubro de 1945, as tropas aliadas adentraram o Camboja e o exército francês, comandado por De Gaulle — com sua intenção de obter o controle da Indochina sob a justificativa de uma “missão civilizadora” —, foi capaz de recuperar sua autoridade colonial.

A partir de então, o rei Sihanouk iniciou o que ficou conhecido como uma “cruzada real pela independência”, e em 1953 obteve, enfim, um acordo parcial com os franceses que selou a independência do Camboja.

Após essa mudança significativa, a política externa cambojana foi caracterizada pela neutralidade, ao menos até o aumento das tensões a leste da fronteira e o envolvimento inevitável do país na Guerra do Vietnã — que hoje completa 50 anos de seu fim.

  • O Camboja na Guerra do Vietnã

Em 1946, depois de obter a expulsão dos japoneses do território vietnamita, as tropas do Viet Minh — movimento independentista liderado pelo marxista Ho Chi Minh — se voltaram para o objetivo comum dos Estados da região: dar à França o mesmo destino do Japão. A investida aumentou rapidamente em escala com a instalação de tropas do Viet Minh no Camboja, e provocou a eclosão da Primeira Guerra da Indochina, com posterior triunfo asiático e derrota europeia na Batalha de Dien Bien Phu, em 1954.

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Primeira Guerra da Indochina. Fonte: The Art of War

Na Conferência de Genebra, consumada logo depois, o rei Sihanouk defendeu categoricamente a soberania do Camboja, utilizando como argumento a própria retirada recente do Viet Minh de suas terras. Determinou-se, ainda, o estabelecimento do Paralelo 17: o Viet Minh governaria legitimamente as províncias vietnamitas do norte (República Democrática do Vietnã), mas não as do sul, de modo que ali vieram a se instalar grupos nacionais anticomunistas aliados aos Estados Unidos, organizados sob um governo capitalista e imperial.

O Paralelo 17, sem nenhuma surpresa, provocou desavenças civis, as quais tiveram seu estopim no golpe arquitetado por Ngo Dinh Diem com subsequente instalação, sem qualquer apoio significativo da população local, de um Estado repressivo e autoritário no Vietnã do Sul.

A guerra começou em 1° de novembro de 1955, há 70 anos, e o governo estadunidense não tardou em reconhecer nela uma oportunidade de zelar por seus interesses político-ideológicos em meio ao cenário caótico da Guerra Fria, fornecendo subsídios monetários, soldados e outros recursos, e contribuindo propositalmente para o aumento da escala de violência. Em 1963, esse auxílio letal se tornou mais abundante, dada a deposição de Diem urdida pela Casa Branca.

Enquanto isso, a Frente Nacional pela Libertação, integrada pelo Viet Cong, atuava no sul, e a zona de guerra se expandia para abarcar o Laos e o Camboja, sendo este alvo de intensos ataques aéreos americanos em regiões de bases do exército Viet Minh.

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Família cambojana em meio aos destroços do bombardeio americano. Fonte: The Conversation

A situação do Vietnã e dos países vizinhos não se abrandou durante a década de 60 e, no Camboja, a insatisfação do povo cresceu. O reinado de Sihanouk perdurava com negligência nacional e com simpatias internacionais pouco definidas. Isso até que, em 1967, uma revolta popular — de aldeões que atacaram cobradores de impostos — se deflagrou na província de Battambang ao mesmo tempo que o rei fazia uma visita oficial à Europa. Lon Nol, autoridade durante a ausência do soberano, prescreveu lei marcial e reprimiu os revoltosos de maneira inescrupulosa, provocando mortes e a destruição de vilarejos. Sihanouk, por sua vez, abandonou seus antecedentes de aparente moderação ao retornar ao palácio real, e ordenou, por decreto, a perseguição dos opositores da monarquia.

Entretanto, a reviravolta na conduta do monarca não passou impune: nascia, pelas mãos do Partido Comunista, a guerrilha do Khmer Vermelho, batizada em homenagem à etnia predominante no Camboja.

Em 17 de janeiro de 1968, a guerrilha atuou pela primeira vez, com uma média de apenas 5 mil combatentes, incitando o temor dos Estados Unidos. Como de praxe, menos de um ano se passou antes que um golpe de Estado fosse arquitetado por Washington — com a desculpa irônica de que Sihanouk poderia estar demasiadamente alinhado à China e ao Vietnã. Lon Nol assumiu o posto máximo de um novo governo de Salvação Nacional, ao passo que o Khmer Vermelho recebia suporte militar chinês, norte-vietnamita e, é claro, da União Soviética.

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Membros da guerrilha do Khmer Vermelho em marcha. Fonte: BBC News/Getty Images

O Nascimento de um Ditador: Quem foi Pol Pot? 

Nascido em 1925, Saloth Sar cresceu em condições financeiras estáveis na região nordeste do Camboja. Em razão de seus privilégios, chegou a estudar em Paris, na França, onde passou a se engajar politicamente ao entrar em contato com grupos revolucionários comunistas. Adiante, em 1953, quando retornou ao seu país de origem, associou-se à aliança político-militar entre os Khmer — grupo étnico cambojano — e o Viet Minh. 

Com o avançar do país e de sua própria formação política, abandonou o cargo de professor para se dedicar à construção do Partido Comunista Nacional em 1963 — do qual se tornou secretário —, junto de Ieng Sary e de Son Sem. Paralelamente, adotou o nome pelo qual é amplamente reconhecido e temido na história moderna: Pol Pot.

A partir de então, viveu o desencadeamento e a escalada da Guerra Civil de 1967, com acirrados antagonismos políticos e a tomada de poder por Lon Nol com apoio e interesse dos Estados Unidos, à qual se opôs fortemente. Analogamente, presenciou uma população cada vez mais fragilizada pelos bombardeamentos norte-americanos — que, estima-se, totalizaram 2.756.941 toneladas. Durante esse período, Pol Pot radicalizou-se e assumiu protagonismo na luta, tornando-se um refugiado na fronteira com o Vietnã e organizando a resistência armada conhecida como Khmer Vermelho. 

De maneira mais profunda, a ação autoritária de Lon Nol desencadeou inúmeros movimentos de resistência, e tão violentos quanto. O então presidente implementou medidas de repressão contra os 400 mil vietnamitas habitantes do Camboja, resultando no aparecimento de 800 cadáveres vietnamitas no rio Mekong em 1970, ato condenado pelo Vietnã do Norte e pelo Viet Cong. Dentre as respostas ao governo, é possível ressaltar o lançamento de duas bombas no palácio presidencial, em 1973, por um ex-oficial, So Potha, filho de Sihanouk. O feito, cada vez mais, alimentou os temores do presidente de que inimigos tentavam derrubá-lo.

Nesse cenário, entre falsas alianças com o príncipe Sihanouk contra o governo vigente, incentivos externos e aumento do apoio popular devido à insatisfação e ao desespero, o grupo se fortaleceu ao ponto de que seu líder comandasse a invasão da capital, Phnom Penh. De forma autoritária, Pol Pot assumiu o poder em um golpe, sob justificativa de uma suposta ameaça dos Estados Unidos, prendendo Sihanouk e implementando seus ideais stalinistas e maoístas na defesa de uma sociedade plenamente agrária. 

Deste então, lamenta-se a data de 17 de abril de 1975 como início de um novo período de terror no Camboja em que Pol Pot governou sob um regime ditatorial e brutal.

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Retrato de Pol Pot. Fonte: Wikimedia Commons

“Ano Zero” e o Apogeu do Khmer Vermelho: A Vida em Kampuchea Democrática 

O Khmer Vermelho era selvagem. Logo após tomar o poder, o regime forçou um violento êxodo urbano que transformou Phnom Penh — capital do país, então com cerca de 2 milhões de habitantes — em uma cidade fantasma. Nos longos trajetos rumo ao interior, além do abandono da vida material, as pessoas foram forçadas a abandonar umas às outras, impotentes diante de acidentes, de doenças, da miséria dos caminhos e também da separação imposta entre mulheres, homens e crianças.

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Cidadãos cambojanos são colocados em caminhões e levados para campos de trabalho forçado. Fonte: CLIC Project.

Com um horizonte camponês, o Khmer Vermelho anunciou o nascimento de um novo país: a Kampuchea Democrática, que agora viveria seu “Ano Zero” e se desenvolveria conforme suas vontades. E assim foi. Abandonando as demais formas de economia, o povo foi submetido ao trabalho compulsório e insalubre nos campos de arroz, em prol de uma meta pouco realista de produção. Como consequência, o período foi marcado pela fome. 

Rithy Panh, cineasta e sobrevivente de Kampuchea, afirma em seu documentário “A Imagem que Falta” que a fome era uma das armas do regime. Paralelamente, o governo não se limitou à escassez de alimentos para enfraquecer a população: o Khmer fechou hospitais e baniu a ciência moderna, proibiu a religião e perseguiu seus adeptos, assumiu controle rígido da mídia, destruiu centros culturais e encerrou as atividades educacionais. Na prática, essas medidas não apenas fragilizaram fisicamente a saúde dos cambojanos, mas também enfraqueceram psicologicamente a esperança de mudança e a possibilidade de contestar o mito revolucionário que estava sendo construído em torno de Pol Pot. 

Como em outros governos ditatoriais, a violência se estendeu à repressão dos chamados “inimigos internos”. Nesse cenário, o governo perseguiu e prendeu todos que se opunham ao regime ou que descumpriam suas ordens, erguendo grandes centros de tortura e preenchendo extensos campos com mortos. Entre esses centros, destaca-se o S-21, antiga escola transformada em prisão e em local de interrogatórios. Estima-se que entre 14 a 17 mil pessoas tenham passado por suas celas; apenas doze sobreviveram.

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Campos de Morte. Fonte: Extraordinary Chambers in the Courts of Cambodia (ECCC)

A vida na Kampuchea Democrática foi marcada pela desumanização. Os relatos incluem estupros, execuções e torturas por instrumentos rudimentares, como os empregados por figuras como Ta Mok, conhecido como “o Açougueiro”. Por meio da desnutrição, assassinatos, doenças e exaustão, calcula-se que entre 1,2 a 2 milhões de cambojanos tenham morrido — dado equivalente a aproximadamente um quarto da população nacional à época. 

Para além da magnitude da tragédia, destaca-se a tristeza de sua imprecisão. Entre os 800 mil indivíduos cuja morte é incerta, pesa a responsabilidade do Estado de mascarar as atrocidades, bem como a falta de reconhecimento internacional — e até de apoio externo. Não apenas a China, alinhada ao Camboja, apoiou Pol Pot, como também, de maneira controversa, os Estados Unidos, sob Nixon e Reagan, e o Reino Unido de Thatcher, governos reconhecidamente neoliberais. Seja pelo bombardeio que levou uma população desamparada a apoiar o Khmer — destaque à frase de Kissinger: “Ele [Nixon] quer uma campanha de bombardeio maciço no Camboja. É uma ordem, deve ser cumprida” —, por incentivos financeiros, ou pela própria atuação do Serviço Aéreo Especial britânico no treinamento dos reacionários, governos estrangeiros e sua omissão diplomática também devem ser responsabilizados. 

Resposta Internacional e o Atual Camboja

Com o fim do regime do Khmer Vermelho, as atrocidades vividas pelo povo cambojano foram expostas e paralisaram a comunidade internacional. No entanto, o alarde foi efêmero, e mais uma história acabou esquecida, permitindo que, sob o comando vietnamita, o país enfrentasse mais um período de tensões armadas e disputas por poder. 

Nesse contexto, critica-se o tardio envolvimento da Organização das Nações Unidas (ONU), que só teve atuação efetiva 16 anos após o massacre, quando decretou o Acordo de Paz Abrangente do Camboja, prometeu proteção, mediação política e contribuiu para a repatriação de cerca de 300 mil cambojanos. Ao longo dessa trajetória, entretanto, a busca por um novo futuro seguiu cruelmente marcada pela anistia, pelo atraso nos julgamentos e pela própria legitimação da continuidade do Khmer Vermelho. 

Após anos de negociação, apenas em 2005 os tribunais foram aprovados, com início efetivo em 2007 — já depois da morte de Ta Mok (2006) e do próprio Pol Pot (1998). Em uma análise mais recente, destaca-se que o reconhecimento do que ocorreu no país como genocídio só veio em 2018, com o comparecimento de Khieu Samphan e Nuon Chea ao tribunal internacional. 

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Tribunal de Phnom Penh decreta prisão perpétua por genocídio ao antigo chefe de Estado do Khmer Vermelho, Khieu Samphan, em 2022. Fonte: Extraordinary Chambers in the Courts of Cambodia (ECCC)

Além disso, o legado político dessa tragédia ainda assombra o Camboja. Sob uma monarquia constitucional desde as eleições de 1993, o país conta com um chefe de Estado e com um chefe de governo. Ao primeiro cargo, houve inicialmente o retorno de Norodom Sihanouk, sucedido por seu filho, Norodom Sihamoni, em 2004. No segundo, apesar da constante instabilidade e escândalos políticos, Hun Sen se manteve chefe de governo de 1984 até 2023, à parte de uma exceção de 5 anos. A controvérsia em torno de sua figura, porém, ultrapassa o autoritarismo e a corrupção, retomando seu histórico como ex-comandante do Khmer Vermelho durante o regime.  

Em outras esferas, o Camboja também segue em busca da superação de suas feridas históricas. Culturalmente, o budismo tem retomado espaço após a abolição de culto e as perseguições religiosas. De forma semelhante, o investimento na educação e na saúde continuam enfrentando desafios em uma população, em partes, não escolarizada e afetada por endemias já superadas em outras regiões do mundo. Quanto à organização da sociedade, os espaços urbanos vêm sendo repovoados, concentrando aproximadamente 26% da população em 2023. 

Atualmente, o foco das transformações recai sobre o aspecto comercial. Apesar de manter uma economia majoritariamente primária, o país experienciou uma significativa abertura internacional. Desde a entrada na Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN, sigla em inglês) em 1999 e na Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2004, o Camboja passou a se posicionar como peça importante no tabuleiro global. Hoje, com incentivos e financiamento externo — especialmente da China, com destaque para o Acordo de Livre Comércio (CCFTA, sigla em inglês) entre os dois —, a diplomacia cambojana tem se alinhado ao emergente “Sul Global”.  

Assim, de forma comparativa, a escassa comoção internacional e os esforços pontuais no pós-massacre contrastam com os desafios contemporâneos de um Camboja ainda em reconstrução — hoje, cada vez mais inserido no cenário global, mas por vias econômicas, e não por reparações humanitárias.

Referências:

https://www.bbc.com/news/world-asia-pacific-10684399

https://www.bbc.co.uk/history/historic_figures/pot_pol.shtml

https://www.bbc.com/news/world-asia-pacific-13006828

https://www.mfa.gov.cn/mfa_eng/xw/zyxw/202504/t20250418_11596461.html

https://www.cia.gov/readingroom/docs/esau-54.pdf

https://www.eccc.gov.kh/en

https://asiasociety.org/education/cambodia-historical-overview

https://www.asianstudies.org/publications/eaa/archives/the-rise-and-fall-of-democratic-kampuchea

https://www.ushmm.org/genocide-prevention/countries/cambodia/s-21

https://diplomatique.org.br/fogo-sobre-o-camboja

https://www.hrw.org/report/2015/01/12/30-years-hun-sen/violence-repression-and-corruption-cambodia

https://operamundi.uol.com.br/hoje-na-historia/podcast-hoje-na-historia-1979-vietna-depoe-pol-pot-no-vizinho-camboja

https://operamundi.uol.com.br/historia/hoje-na-historia-1975-capital-do-camboja-cai-nas-maos-do-khmer-vermelho

https://operamundi.uol.com.br/politica-e-economia/apos-vietna-e-malasia-xi-jinping-chega-no-camboja-e-encerra-turne-na-regiao-asiatica

https://operamundi.uol.com.br/pensar-a-historia/69-anos-da-guerra-do-vietna

https://www.terra.com.br/noticias/mundo/camboja-lembra-50-anos-da-tomada-de-poder-pelo-khmer-vermelho-que-instaurou-quatro-anos-de-terror,c2667cdfdd03d7c3abc4705fba8bbb7e7l88ny26.html#google_vignette

https://www.aljazeera.com/where/cambodia

https://www.aljazeera.com/news/2025/4/30/vietnam-marks-50-years-since-fall-of-saigon-with-parade-focusing-on-peace

https://www.aljazeera.com/news/2025/4/17/cambodia-seeks-financing-from-china-as-xi-visits-amid-us-tariff-war

https://www.aljazeera.com/news/2025/4/17/fifty-years-after-fall-of-phnom-penh-history-weighs-on-cambodian-politics

https://www.britannica.com/place/Cambodia/Civil-war

https://www.britannica.com/event/Cambodian-Genocide

https://www.statista.com/statistics/455789/urbanization-in-cambodia

https://www.theguardian.com/world/2000/jan/09/cambodia

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Fundado por alunos de Relações Internacionais da USP, somos um grupo de extensão que tem como missão promover a pesquisa e a extensão universitária na área de Relações Internacionais.