#OLHARINTERNACIONAL : CRISE ECONÔMICA NA ARGENTINA
A crise na Argentina está tendo sérios impactos devido à alta taxa de inflação, que ultrapassa os 100%. Desde 2018, o país vem enfrentando uma recessão decorrente de diversos fatores, como o aumento das taxas de juros nos Estados Unidos, fragilidades na economia argentina e falhas na administração anterior.
Escrito por: Isadora Prada Ratti
Edição e arte: Jullia Diovana
Pela primeira vez em mais de três décadas, a Argentina enfrenta uma inflação de mais de 100%, o que configura uma das piores crises econômicas do cenário atual.
As origens da crise
A recessão econômica argentina teve início em 2018, quando uma série de fatores levaram a uma inflação de quase 50% e o dólar atingiu um preço de 39 pesos. Segundo o jornal El País, foram quatro os principais pilares de estopim da crise: o aumento das taxas de juros nos Estados Unidos, a fragilidade estrutural da economia na Argentina, as secas que se alastraram por quase meio século no país e erros na condução do setor econômico por parte do governo de Mauricio Macri, que, buscando evitar uma crise social, relaxou as metas inflacionárias e escalonou a eliminação de subsídios.
Combinando o déficit nas exportações de commodities por conta das secas às medidas do Banco Central da Casa Rosada para tentar reverter a recessão, o país enfrentou uma inevitável desvalorização da moeda e recorreu a dívidas externas, sendo a maior delas o empréstimo com o FMI de 57 bilhões de dólares. Desde então, o poder de compra dos salários despencou e a crise inflacionária desenvolveu-se de maneira crescente.
Nos anos seguintes, outros fatores corroboraram com o agravamento desse panorama, dentre os quais destaca-se a pandemia. O governo de Alberto Fernandez começou suas atividades já inadimplente perante vendas de títulos do governo que não conseguiu pagar, construindo um terreno instável e descredibilizado para a chegada da pandemia. Sendo assim, as soluções encontradas para gerar renda e programas sociais em 2020 foram a impressão de cédulas de pesos e o congelamento de preços, mexendo com as taxas de câmbio, medidas as quais se provaram ineficazes a longo prazo.
Dessa maneira, os impactos da crise inflacionária foram se alastrando e se acumulando ao longo dos anos, até atingirem seu ápice nos primeiros meses de 2023.
Repercussões na comunidade internacional
O governo argentino renegociou o acordo com o FMI, que agora consta em
44 bilhões de dólares. De acordo com o Washington Post, o novo acordo desembolsa dinheiro do FMI para a Argentina em um cronograma que equivale a refinanciar o pacto original e estender os pagamentos em pelo menos quatro anos, para que o país possa quitar sua dívida original.
O FMI, no entanto, propôs algumas condições para o refinanciamento, que constam em medidas austeras para a Argentina, as quais devem ser adotadas nesse período político conturbado pré-eleições de outubro. Apesar de impopulares e abruptas, se tais propostas não forem seguidas, o país corre o risco de manchar sua imagem com o maior organismo internacional de créditos, o que consistiria no aumento de suas dificuldades financeiras e na consequente persistência da crise atual.
Além da situação com o FMI, muitos países também estão envolvidos indiretamente na situação econômica argentina. O Brasil, por exemplo, expande suas preocupações acerca da dívida externa de 2 bilhões de dólares a seu favor e da reputação e posição Argentina perante o olhar internacional, por se tratar de um de seus principais parceiros comerciais.
Ademais, a hiper desvalorização do peso argentino também afeta outras nações e perspectivas globais, já que a Argentina tem comprado dinheiro não só do Brasil, mas também da China e países da Europa, mostrando um nível de dependência e confiança nas economias que pode mudar.
Impactos internos e ameaças futuras
É um fato esperado que a principal parcela afetada pela crise inflacionária é a de menor renda, uma vez que os produtos que mais têm aumento de preço são os de consumo essencial, como alimentos, vestuário e calçados. Essa conjuntura, porém, é estabelecida com algumas singularidades no contexto argentino.
Em primeiro lugar, o país já contava com o segundo salário mínimo mais baixo da América Latina, segundo a BBC Brasil, o qual já seria insuficiente para as despesas básicas mesmo sem a disparada nos preços. Além disso, cresceu o número de trabalhadores informais na Argentina, os quais não dispõem da ferramenta de paridade (ajuste dos salários à inflação), ficando desprotegidos perante as instabilidades econômicas.
Nesse sentido, a insegurança social também afeta os rumos da governabilidade do país, que se encontra ameaçada pelo caos socioeconômico instaurado. Em cenários como este, é comum que surjam vias políticas extremistas, as quais, aproveitando-se de um momento conturbado de grande fragilidade, constroem discursos salvacionistas, propondo soluções simples e desonestas para problemas complexos. Desse modo, é indubitável que, de uma forma ou de outra, esse quadro econômico deve afetar as campanhas para as eleições presidenciais do fim deste ano.
Fontes
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/12/26/internacional/1545859505_021155.html
https://veja.abril.com.br/coluna/murillo-de-aragao/argentina-calote-e-maxi-desvalorizacao
https://www.youtube.com/watch?v=p4T2ky-Y-XM&list=PLL3GReg9nxwbBT_6gvCuRk90k04tcXHsE&index=2
https://www.youtube.com/watch?v=4pfdIjtV4zw&list=PLL3GReg9nxwbBT_6gvCuRk90k04tcXHsE&index=29
Share this content: