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CÚPULA DOS BRICS #OLHAR INTERNACIONAL

CÚPULA DOS BRICS #OLHAR INTERNACIONAL

Cúpula dos BRICS de 2023 estabelece a inclusão de 6 novos membros no grupo: Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã.

Escrito por: Isadora Prada Ratti

capa CÚPULA DOS BRICS #OLHAR INTERNACIONAL
Representantes do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul se reúnem na décima quinta cúpula dos BRICS. Fonte: O Globo.

Panorama geral da 15ª Cúpula dos BRICS

Dos dias 22 à 24 de agosto de 2023, a cidade de Joanesburgo, na África do Sul, sediou a 15ª Cúpula dos BRICS, reunião anual que marca o encontro dos representantes dos 5 países do grupo – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – para discutir os novos rumos de suas ações conjuntas.

Os 5 membros do BRICS, hoje, somam uma população de quase 3,26 bilhões de pessoas, o que representa 40% da população mundial, além de um PIB acumulado de mais de 26 trilhões de dólares. Sendo assim, as deliberações empreendidas por esse grupo têm, inevitavelmente, alto impacto nas relações internacionais, uma vez que as decisões do bloco reverberam diretamente em grande parte do globo atual.

Na conferência de 2023, o primeiro chefe de Estado a discursar depois do anfitrião sul-africano foi Lula. O representante brasileiro, que participou da consolidação do bloco em 2006, agora retorna às discussões dos BRICS em seu terceiro mandato como presidente do Brasil. Em sua fala inicial, Lula dá boas vindas aos novos países membros dos BRICS e deixa claro o desejo de priorizar a relevância dos novos integrantes no cenário internacional, em detrimento das aspirações do Ocidente.

Anúncio de novos membros

Como principal pauta da Cúpula, teve-se o anúncio do convite formal de 6 novos membros para comporem os BRICS, são eles: Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã. Apesar de demonstrarem diferentes razões para aceitar o convite, a adesão de cada país é importante para construir um novo equilíbrio no grupo. Espera-se, à vista disso, que em janeiro de 2024 todos os países já tenham sua admissão no bloco efetivada como membros plenos, tendo assim os mesmos direitos que os integrantes originais.

Com a adesão dos novos participantes, o BRICS passa a contar com mais de 35% do PIB mundial, ultrapassando o G7 (considerando o PIB pela paridade de poder de compra), além de passar a representar 46% da população do planeta. Dessa forma, o grupo passa a ser ainda mais relevante para o cenário internacional, o que amplia suas possibilidades de exercício de influência mundial e de expansão econômica.

Como percursora da ideia da ampliação do bloco, a China articulou grande parte dos convites, tendo, ainda, que fazer concessões aos demais membros originais dos BRICS para consolidar suas aspirações. O Brasil, que antes se mostrava receoso com a entrada de novos membros, exigiu como contrapartida que fosse colocada em pauta pela China a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o que não aconteceu, mas abriu uma prerrogativa para que a China apoiasse a pretensão brasileira, indiana e sul-africana em desempenhar um papel mais importante na ONU.

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Representantes dos países convidados aos BRICS se reúnem com os membros originais do bloco. Foto: Ricardo Stuckert / PR

Expansão latino-americana

Também para atender às demandas brasileiras é que se da o convite à Argentina. Apesar de ser um país que se enquadra no ideal dos BRICS de expandir nações emergentes, a principal razão para a sua entrada no bloco foi a parceria com o Brasil. Buscando perpetuar sua influência perante os demais membros do grupo, é interessante para o Brasil que seu aliado histórico sul americano seja um dos novos participantes. Além disso, o presidente argentino Alberto Fernandez reconheceu a oportunidade de ampliar os mercados e perspectivas de seu país que a adesão ao bloco oferece, principalmente em no momento de fragilidade financeira que a Argentina se encontra devido à uma crescente escalada inflacionária e instabilidade política.

Africanização dos BRICS

Nesse mesmo sentido, a África do Sul também demonstrou interesse em trazer aliados de seu continente para o grupo. É sob essa perspectiva que são convidados aos BRICS o Egito e a Etiópia. Cairo já havia manifestado o desejo de fazer parte do grupo, tendo sido discutidas negociações para a entrada do país norte africano desde 2009. Desde então, o país vinha participando de reuniões do grupo e estreitando suas relações com os países membros, até que conseguiu se tornar membro do New Development Bank em 2023. Tendo em vista essa conjuntura, o Egito foi, naturalmente, um dos países africanos a receberem um convite para adentrar ao bloco.

A Etiópia, por sua vez, é uma economia em crescimento acelerado, com mais 120 milhões de habitantes, a segunda maior população da África, bem como um dos maiores PIBs do continente. Sendo um dos únicos países que preservou sua independência durante o imperialismo europeu, o plano de desenvolvimento etíope está de acordo com as metas de progresso sustentável da ONU. A Etiópia, portanto, foi uma escolha perspicaz para a inclusão de mais um país africano ao grupo, uma vez que se trata de uma nação próspera e aliada a África do Sul, além de estar alinhada com o a proposta dos BRICS de cooperação de países emergentes para seu desenvolvimento conjunto.

Equilíbrio de Poder no Oriente Médio

Em contrapartida a esse alinhamento aos membros originais do grupo e buscando ampliar o bloco em novas direções, três convites foram feitos à países do Oriente Médio. Embora a entrada em conjunto do Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos possa parecer contraditória, visto que os países contam com rivalidades históricas entre si, ela correspondeu, pelo contrário, a uma estratégia dos BRICS para manter sua estabilidade. É possível analisar a chamada desses países como uma forma de reiterar a nova política externa chinesa de assumir seu destaque no palco mundial, o que pode até ser visto como um meio de construir um polo de poder em contraponto aos Estados Unidos, já que esses novos membros possuem fortes tendências antiocidentais.

Diplomacia Chinesa e Mediação

Além disso, esse quadro evidencia as habilidades diplomáticas de Xi Jinping, capaz de colaborar para que três ditaduras entrassem em um acordo para cooperar internacionalmente. A aliança ente dois países muçulmanos de maioria sunita (Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos) e um de maioria xiita (Irã) foi essencial para que os BRICS não fossem acusados de favoritismo no Oriente Médio, além de permitir à China demonstrar seu poder de mediação para o mundo, permitindo que o bloco se amplie para as mais diversas partes do globo.

Ainda que apenas estes 6 países tenham sido convidados para os BRICS, o bloco deixa clara a possibilidade de abertura a novos participantes e caminhos a serem percorridos. Essa conjuntura demonstra uma nova perspectiva não só para o grupo, mas para o cenário das relações internacionais: observa-se uma maior disposição à cooperação multinacional, a qual, aos poucos, deixa de se restringir à pequenos polos de poder. Além disso, também se observa a articulação dos países emergentes para se edificarem como uma alternativa ao domínio Ocidental, que se dá, principalmente, sob a liderança da China.

Outras pautas debatidas na conferência

Apesar de o principal tópico abordado na Cúpula de 2023 ter sido a ampliação dos blocos e convites aos novos membros, a questão do dólar como moeda de câmbio e a Guerra da Ucrânia também foram colocadas em pauta.

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Joanesburgo, África do Sul, 24.08.2023 – Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, participa da Sessão I do Diálogo de Amigos do BRICS, BRICS-Africa Outreach e BRICS Plus. Foto: Ricardo Stuckert/PR

De um lado, a China e a Rússia já vinham demonstrando seu forte interesse em abandonar a moeda norte-americana nas transações internas ao bloco, como uma maneira de construir a independência financeira dos BRICS perante os Estados Unidos da América, além buscar de enfraquecer o dólar no comércio internacional e, consequentemente, fortalecer as suas respectivas moedas. De outro, a Índia, que têm uma relação próxima aos EUA, se recusou a cooperar com essa proposta.

Como consenso, ficou acordado o reconhecimento da importância de se priorizar o uso de moedas locais. Esse incentivo não acarreta a rejeição ao dólar antes pretendida por Rússia e China, mas representa um avanço no incentivo dessa aspiração. O Brasil, por sua vez, insistiu na ideia da criação de uma moeda comum para o bloco, o que foi recebido com um certo ceticismo pelos demais membros do grupo.

Quanto a Guerra da Ucrânia, Lula se manifesta sem criticar a Rússia, mas buscando a articulação dos demais países na busca de uma solução que conte com relações multilaterais. O presidente russo Vladmir Putin, por sua vez, que participou da reunião de forma remota, culpou o Ocidente pela invasão à Ucrânia e defendeu as ações russas que perpetuam a guerra. A Índia, a China e a África do Sul não se pronunciaram, o que fez com que a discussão acerca desse tema não se alongasse.

Fontes

https://www.youtube.com/watch?v=Dlv1WB2tH2I

https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2023/08/24/cupula-dos-brics-aprova-entrada-de-6-paises-no-bloco-economico.ghtml

https://jornal.unesp.br/2023/08/22/entrada-de-novos-membros-criacao-de-moeda-comum-e-participacao-virtual-de-putin-marcam-a-15a-cupula-do-brics-avalia-pesquisador-da-unesp/

https://www.google.com/search?q=why+did+egypt+joined+the+brics&rlz=1C1CHZN_pt-BRBR1047BR1048&oq=why+did+egypt+joined+the+brics&gs_lcrp=EgZjaHJvbWUyBggAEEUYOTIHCAEQIRigATIKCAIQIRgWGB0YHtIBCDk2NzdqMWo3qAIAsAIA&sourceid=chrome&ie=UTF-8

https://www.silkroadbriefing.com/news/2023/08/31/egypts-pending-membership-of-brics-an-overview/#:~:text=By possessing membership in BRICS,Saudi Arabia and the UAE 

 

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