Escolhas de hoje, Impactos no Clima de Amanhã
A Importância das Eleições Municipais e as Pautas Climáticas para São Paulo
No dia 6 de outubro de 2024, eleitores paulistanos irão às urnas para decidir o futuro da maior cidade da América Latina. São Paulo, com sua imensa relevância no cenário brasileiro e latino-americano, é um epicentro de desafios urbanos, e um dos mais urgentes é o combate às mudanças climáticas. Embora a crise climática afete diretamente a vida nas cidades — aumentando a intensidade de enchentes, ilhas de calor e desastres naturais —, o debate sobre o tema ainda não ocupa o centro das discussões eleitorais. Segundo o Iclei (Conselho Internacional para Iniciativas Ambientais Locais), as soluções ambientais têm ganhado espaço, mas não com a centralidade necessária
A crise climática em São Paulo é especialmente sentida nas áreas mais vulneráveis. Com uma cidade altamente urbanizada, a impermeabilização do solo agrava as enchentes, enquanto o aumento das temperaturas sobrecarrega regiões que carecem de áreas verdes. Neste cenário, candidatos à prefeitura de São Paulo têm apresentado propostas, algumas ambiciosas, para enfrentar essa realidade.
Antes de se dirigir às urnas, é fundamental que os eleitores analisem não apenas as propostas atuais, mas também o histórico dos candidatos em seus mandatos anteriores. Investigar o que realmente foi realizado em relação ao que foi prometido é essencial para garantir uma escolha consciente. O eleitor deve ir além do discurso político e buscar dados sobre a efetividade das políticas implementadas, a transparência nas ações e o impacto das medidas adotadas. é importante avaliar, por exemplo, as políticas de gestão de resíduos, as iniciativas para aumentar as áreas verdes e as ações de mitigação das emissões de poluentes durante da atual gestão. Um olhar crítico sobre o passado pode fornecer um panorama mais próximo do momento atual sobre a capacidade do candidato de cumprir suas promessas, assim como seu passado político pode ditar sua capacidade de cumprir promessas e transformar propostas em ações concretas. Candidatos com um histórico de compromisso e resultados tangíveis tendem a ser mais confiáveis em suas promessas futuras. Vale considerar como cada um deles lidou com crises anteriores, como a pandemia de COVID-19, e se implementaram políticas públicas que realmente atenderam às necessidades da população. Votar deve ser mais do que uma obrigação; é também uma oportunidade de moldar o futuro da cidade com base em evidências e experiências anteriores.
As propostas
Ricardo Nunes (MDB)
Candidato à reeleição, Ricardo Nunes enfatiza as conquistas de sua gestão na área ambiental e promete dar continuidade a essas ações. Um dos focos de suas propostas é a criação de novas áreas verdes para mitigar os impactos do calor na cidade. Nunes também fala sobre a redução das emissões de gases de efeito estufa por meio da modernização do transporte público, incluindo a frota de ônibus escolares. Outro ponto destacado por ele é a melhoria na gestão de resíduos sólidos e o aumento do bem-estar animal.
Entretanto, uma avaliação da sua gestão revela que as iniciativas para áreas verdes, apesar de importantes, não foram executadas na escala necessária. Medidas promissoras, como a ampliação das áreas de lazer e de jardins de chuva, que são essenciais para a retenção de água e combate às enchentes, avançaram lentamente. Em termos de transporte público, a eletrificação da frota ainda está longe de alcançar resultados expressivos, o que limita a eficácia das ações contra a poluição do ar.
Guilherme Boulos (PSOL)
Para Guilherme Boulos, a mudança climática é um dos “maiores desafios do nosso tempo”. Suas propostas se concentram em integrar soluções de infraestrutura verde ao planejamento urbano. Isso inclui a atualização do Plano Diretor de Drenagem, que combina obras de retenção convencionais com soluções como parques lineares, jardins de chuva e áreas permeáveis . Boulos também defende a reestruturação da Defesa Civil para lidar melhor com desastres naturais e o aumento da arborização nas áreas mais carentes da cidade.
Suas propostas têm como base soluções sustentáveis e comprovadamente eficazes, mas será um desafio implementá-las, considerando a complexidade da administração pública e a resistência a mudanças no modelo de urbanização tradicional. Sua plataforma também prevê a renovação da frota de ônibus, buscando reduzir a poluição, mas sem detalhar um cronograma específico.
Pablo Marçal (PRTB)
Candidato pelo PRTB, trata a questão ambiental de forma superficial em seu plano de governo. Ele propõe a revitalização de áreas verdes como forma de “regular o clima”, além de prometer a limpeza do Rio Tietê e “transformar o lixo em riqueza”. Contudo, essas promessas carecem de um detalhamento claro de políticas públicas e recursos necessários para sua execução. Seu discurso geral sobre o meio ambiente aponta para uma falta de foco nas questões mais urgentes, como a eletrificação da frota de ônibus ou a expansão de áreas permeáveis na cidade.
Tabata Amaral (PSB)
Já Tabata Amaral apresenta um plano de governo mais consistente com soluções baseadas na natureza, como a criação de áreas-esponja, jardins de chuva e telhados verdes. Ela também defende a expansão de sistemas de alerta em áreas de risco, buscando mitigar os danos causados pelas enchentes. A eletrificação da frota de ônibus também aparece como um ponto forte em sua plataforma. As propostas de Tabata são coerentes com as diretrizes sugeridas por especialistas, como o Iclei, que apontam a necessidade de priorizar soluções sustentáveis e integradas.
Datena (PSDB)
Datena, por sua vez, reconhece a frequência crescente de eventos climáticos extremos em São Paulo e critica a gestão atual por não lidar adequadamente com a questão. Entre suas principais propostas estão a adoção do conceito de cidades-esponja — que usa soluções como telhados verdes, jardins de chuva e canteiros permeáveis para lidar com as enchentes. Ele também propõe a substituição da frota de ônibus por veículos menos poluentes e um monitoramento mais rigoroso da qualidade do ar. O candidato se compromete a ampliar a coleta de lixo e a garantir que as práticas sustentáveis sejam integradas ao desenvolvimento urbano.
Marina Helena (NOVO)
Para a candidata, a crise climática é central em sua plataforma para a prefeitura de São Paulo. Suas propostas incluem a criação de um Plano Municipal de Adaptação Climática, com foco em soluções naturais para drenagem, como cidades-esponja e telhados verdes, para combater as enchentes e mitigar o calor urbano. Além disso, ela defende a eletrificação da frota de ônibus até 2030, reduzindo a emissão de gases de efeito estufa, e a criação de novos parques, especialmente nas áreas mais vulneráveis, para aumentar a resiliência da cidade às mudanças climáticas. Sua plataforma também prioriza a gestão de resíduos, com incentivo à compostagem e ao aumento da reciclagem, reforçando uma abordagem de economia circular e sustentável para São Paulo.
Cidadania para lidar com clima
Contudo, a participação ativa do eleitorado não se limita ao ato de votar. É fundamental que os cidadãos se engajem em discussões sobre políticas públicas e exijam responsabilidade de seus representantes. O acompanhamento das ações do governo, a participação em audiências públicas e o apoio a iniciativas que visem à sustentabilidade e à justiça social são essenciais para que os eleitores possam influenciar positivamente as decisões que afetam suas vidas. A continuidade do engajamento da população garante que as pautas climáticas e outras questões sociais permaneçam na agenda pública, pressionando os governantes a cumprirem suas promessas e a agirem de forma responsável em relação ao meio ambiente. A escolha do eleitor deve ser consciente, e cada um deve pensar em como cada ação impacta a vida em sociedade, de modo a assegurar que a próxima gestão esteja comprometida com a transformação urbana que a cidade necessita, garantindo um ambiente mais sustentável e justo para todos.
Conforme o futuro prefeito de São Paulo será escolhido, as decisões de hoje moldarão a cidade de amanhã. O caminho para uma São Paulo sustentável depende de mais do que promessas eleitorais: exige ação concreta, fiscalização constante e o comprometimento de todos. Seja qual for o resultado das eleições, cabe ao eleitor manter a pauta climática viva, garantindo que a cidade avance para um futuro mais verde e resiliente, onde as soluções para a crise climática sejam parte integral do planejamento urbano.
Referências bibliográficas
https://apublica.org/2024/09/climometro-candidatos-prometem-priorizar-clima-veja-balanco/
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2024/09/11/especial-clima-e-eleicoes-municipais
Share this content: