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Tensões entre Israel e Irã: escalonamento de conflitos no Oriente Médio.

Tensões entre Israel e Irã: escalonamento de conflitos no Oriente Médio.

Por Maria Isadora Castelli Dias e Rafael Paoliello de Ávila.

Os Ataques.

No dia primeiro deste mês, mais um episódio importante se desencadeou na guerra com palco no Oriente Médio. O Irã realizou um dos maiores ataques contra Israel dos últimos anos lançando cerca de 200 mísseis em direção a este território. Esses ataques se deram no mesmo dia em que Israel declarou ter iniciado uma invasão terrestre no Líbano e após a morte de do chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah e a do líder do Hamas pelos ataques israelenses, essas que foram motivações abertamente declaradas pela guarda revolucionária do Irã. 

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Fonte: Folha.

Nesse sentido, o Irã logo afirmou que Israel sofreria “ataques devastadores” caso respondesse a ofensiva. Mesmo assim, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou que o Irã havia cometido um “grande erro” e prometeu retaliação.

Acerca da invasão ao Líbano que se demonstra o estopim para o ataque, o Exército israelense confirmou que suas tropas iniciaram “ataques terrestres seletivos” no sul do Líbano. Do mesmo modo, se perpetuaram os ataques aéreos com alvos no sul de Beirute, além dos arredores de Damasco, na Síria, e a Faixa de Gaza. Mais recentemente Israel atacou inclusive, pela primeira vez, a região de Aitou, uma área de maioria cristã no Líbano, matando cerca de 21 pessoas e deixando 4 feridas. 

Os ataques efetuados não podem ser considerados uma surpresa no ponto de vista internacional, uma vez que ambos países possuem um histórico conflitante e de desavenças a longo e curto prazo. Além disso, esses eventos são de extrema importância no conflito entre Israel e Gaza, uma vez que expande mais ainda suas proporções ao adicionar nos cálculos uma potência militar, com possíveis capacidades nucleares, chamando a atenção para as potências mundiais para possíveis entradas no conflito.

Histórico das disputas.

A rivalidade do Irã com Israel já é uma questão antiga e uma das maiores causas de instabilidade no Oriente Médio. Enquanto o primeiro considera o outro um Estado ilegítimo, o segundo o acusa de financiar grupos “terroristas” para realizar ataques contra seus interesses.

Desde o início do fatiamento da Palestina para criação de um Estado sionista, o Irã já se possicionava contrário a essa ocupação, mas as principais desavenças se iniciaram após 1979 com a Revolução Islâmica dos aiatolás que conquistou o poder em Teerã, que se fundou com princípios contra o que chamam de imperialismo americano e israelense no territóio árabe. Isso fez com que Khomeini, que assumiu o Irã, reivindicasse a causa palestina como sua própria. Já em Israel, as hostilidades começaram um pouco depois, uma vez que de início viam o Iraque como sua principal ameaça no Oriente Médio.

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Fonte: Insper.

A relação entre os dois países é muitas vezes descrita como uma “guerra nas sombras”, uma vez que ambos realizaram ao longo dos anos ataques mútuos sem que algum dos governos tenha admitido oficialmente culpa ou participação, mas sempre acusando um ao outro por ataques e intervenções contra suas integridades. 

Tendo em vista todo esse histórico de animosidade entre os dois países, faróis vermelhos foram acendidos desde o dia 7 de outubro de 2023 com os ataques do Hamas contra Israel e o desencadeamento militar massivo das forças israelenses nos territórios e população de Gaza. Isso porque, temia-se o envolvimento do Irã em defesa da Palestina, o que levaria a um escalonamento do conflito. 

Desde esse ataque, em primeiro de abril, Israel realizou lançamentos aéreos ao consulado do Irã na Síria, matando dois generais de alto escalão. Em retaliação, em 13 de abril, Irã atacou Israel com drones e mísseis. E agora, com os avanços sobre o Líbano, o Irã tomou frente oficialmente na guerra ao atacar novamente Israel.

Apesar de pouco ataques militares até agora, o Irã vem se opondo a destruição em Gaza desde o início de forma diplomática procurado mobilizar o apoio do mundo muçulmano e denunciar Israel em plataformas internacionais, mantendo um discurso de resistência, referindo-se a Israel como uma “entidade sionista” que deve ser eliminada.

Por outro lado, Israel afirma o Irã como um ator central por trás do aumento da violência em Gaza. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e outros líderes israelenses afirmaram repetidamente que o Irã está “orquestrando” ataques contra Israel por meio de sua influência na região. Posição essa que vem sendo muito compartilhada e apoiada pelo ocidente de modo geral, principalmente os Estados Unidos. 

Repercussão Internacional.

As tensões no Oriente Médio envolvendo Israel e o Irã, conforme comentado anteriormente, movem grandes preocupações da comunidade internacional. Tendo isso em vista, inúmeros agentes expressaram preocupação com o possível escalonamento do conflito, incluindo repercussões no âmbito econômico, no setor político e estratégico de várias nações.

Nesse sentido, após o ataque iraniano em 01/10, cresceu o temor no que tange a magnitude da resposta israelense. Conjuntura que engloba apreensão por quatro principais motivos: prejuízos econômicos associados ao setor do petróleo, enfraquecimento do poder diplomático de agentes importantes – como os Estados Unidos- na região, fragilização do sistema de segurança internacional e impacto do conflito em outros âmbitos políticos importantes, como as eleições americanas.

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Fonte: CNN.

Questões econômicas: o petróleo.

O Oriente Médio é uma das regiões mais importantes do mundo em termos de produção de petróleo, e o Irã foi o sétimo maior produtor do combustível em 2023, de acordo com o Centro Brasileiro de Petróleo e Gás. Além disso, há preocupação no que diz respeito ao efeito das tensões em áreas estratégicas, como o Estreito de Ormuz, por onde passa 20% da produção mundial do combustível fóssil. Assim, diante do iminente conflito entre Israel e o país, operadores de todo o planeta preocupam-se com as consequências da destruição para o setor.

O cenário econômico de tensões pode ser exemplificado pela reação do mercado após os ataques iranianos, que envolveram o aumento do preço do petróleo em 3,85% no dia seguinte, bem como aumentos sucessivos na última semana. Contudo, nos últimos dias, conversas estratégicas entre Israel, Estados Unidos e outros países contribuíram para redução da preocupação do mercado, de modo que o preço do barril caiu em cerca de 5%.

Em suma, a insegurança internacional no que diz respeito ao caráter da resposta de Netanyahu, incluindo a possibilidade de ataque a instalações petrolíferas iranianas foi uma das principais consequências da atual conjuntura. Todavia, espera-se que uma demonstração dessa instância seja improvável, fato decorrente da pressão americana, principalmente, em minimizar o escalonamento do conflito.

Recentes interações entre EUA e Israel: segurança internacional e escalonamento do conflito.

Dentro das perspectivas de resolução do conflito, muitos olhares voltaram-se para a relação entre Israel e Estados Unidos, visto que o primeiro é um grande aliado estratégico da potência na região do Oriente Médio. Nesse âmbito, as maiores discussões relacionam-se ao poder de influência dos EUA para com o parceiro, bem como possíveis impactos da conjuntura na corrida eleitoral americana.

Primeiramente, a diminuição da influência dos Estados Unidos em Israel tem se expressado  em inúmeros momentos do último ano. Alguns exemplos disso são as atitudes recentes de Netanyahu no Líbano, entre elas a operação que levou à explosão de inúmeros walkie-talkies e pagers de comunicação do Hezbollah sem comunicação prévia aos EUA, o procedimento gerou um alto número de mortes e repercussões internacionais. Ademais, foi agravante o comunicado expelido essa semana pelo governo de Israel após uma reunião entre os dois países, no qual o gabinete do primeiro-ministro declarou “Ouvimos as opiniões dos Estados Unidos, mas tomaremos nossas decisões finais com base em nossos interesses nacionais”. Indicador de claro enfraquecimento da retórica de Biden, frente aos próximos passos tomados pelo aliado.

Esse cenário traz também impactos para a política interna dos EUA, na medida que, no próximo dia 5 de Novembro os cidadãos norte americanos vão às urnas eleger candidatos para a presidência, e, diante da disputa acirrada entre democratas e republicanos, transformações bruscas no conflito podem mover a opinião pública contra a gestão atual, alterando o resultado do pleito. Isso é notado principalmente nos chamados “swing-states’’, locais onde a disputa é extremamente competitiva, e flutuações econômicas, ou até mesmo oscilações nas opiniões de minorias árabes, podem indicar a vitória ou derrota de um dos partidos.

Tendo isso em vista, a administração de Biden aumentou os esforços para garantir que a resposta de Israel não atinja campos de petróleo do Irã, bem como não ocorra diretamente a instalações nucleares, já que isso levaria a um agravamento do conflito, e possível envolvimento direto do aliado. Em resposta, autoridades de Israel garantiram que os ataques serão restritos a alvos militares, uma ação que tranquiliza os demais Estados da região, bem como gera menos impactos internamente aos Estados Unidos.

Referências Bibliográficas.

https://www.brasildefato.com.br/2024/10/01/ira-lanca-misseis-contra-israel-apos-invasao-israelense-por-terra-no-libano

https://www.bbc.com/portuguese/articles/cjr35pwwgrjo

https://www.terra.com.br/noticias/mundo/paises-do-golfo-pedem-aos-eua-que-impecam-israel-de-bombardear-instalacoes-petroliferas-do-ira,a34f7acf8a3f9aab7499474b04c87d8fko3ynnmq.html

https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2024/10/13/eua-enviar-sistema-antimisseis-israel-ameaca-ira.htm

https://g1.globo.com/economia/noticia/2024/10/02/guerra-no-oriente-medio-entenda-o-papel-e-o-tamanho-do-ira-na-producao-de-petroleo-no-mundo.ghtml

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