#OLHAR INTERNACIONAL Israel e Palestina: um mês de conflito
No dia sete de novembro, o conflito em Gaza comemorou seu primeiro mês de aniversário. O saldo em solo palestino ultrapassa 10 mil mortos e a destruição de metade das casas na região.
Escrito por: Mariana Redondo.
Migração de Gaza. Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cqeplqy3e3eo
O conflito em Gaza completou um mês de mortes e destruição. A Faixa de Gaza, que já era uma região precária, acometida pelo baixo acesso a suprimentos básicos e pela superlotação, é, hoje, território para uma luta armada sem vislumbre de fim, relegando, até agora, a migração forçada à 60% do povo palestino, afetados pelos ataques nem tão direcionados entre Israel e o Hamas.
A destruição
As capacidades dos hospitais estão reduzidas, a ONU tem dificuldade de contabilizar mortos e feridos e Israel nega essas estatísticas, descredibilizando, inclusive, laboratórios de análise supervisionados e reconhecidos internacionalmente. Mais de 25 estações de tratamento de esgoto pararam de funcionar graças à falta de combustível, gerando alerta para enchentes e possibilidade de proliferação de doenças na região. Mesmo tratamentos rotineiros, como hemodiálise e tratamentos para diabetes e câncer, tiveram de ser interrompidos, já que 80% dos centros com capacidade para realizar diálises, por exemplo, estão na área norte da faixa, a área mais bombardeada por Tel Aviv.
Trabalhadores da área da saúde e prestadores de ajuda humanitária foram mortos, além dos 88 funcionários da própria ONU (UNRWA, Agência das Nações Unidas para a Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente) e os 18 trabalhadores da defesa civil. Até o começo da última semana, 46 jornalistas e suas famílias foram assassinados, atestando que o conflito é o mais trágico para o Comitê de Proteção aos Jornalistas nos últimos trinta anos. À essa altura, os códigos da Convenção de Genebra e o Direito Internacional são apenas peças esquecidas no jogo.
Mortes de palestinos e israelenses desde o dia 7 de outubro. Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cqeplqy3e3eo
A falta de água é outra questão na região, já que Gaza, antes da guerra, já vivia abaixo do limite de emergência de litros por pessoa por dia. Normalmente, a OMS estabelece 15 litros diários para beber, cozinhar e higienizar. Gaza sobrevivia com três litros por pessoa diariamente. Em 5 de novembro, a região já diminuíra em 92% o consumo de água. A superlotação e a destruição da infraestrutura de saneamento, afinal, são indícios do colapso definitivo da saúde pública.
Além disso, o próprio Secretário-Geral da ONU deixou claro o alerta diante das crianças e mulheres na região. A população jovem de Gaza é maioria na região, com a média de 3,3 filhos vivos nascidos por mulher, um ponto a mais do que a média mundial. António Guterres chama a atenção para as 180 mulheres que dão à luz todos os dias em Gaza: “Gaza está se tornando um cemitério de crianças”.
Ameaças e atitudes
No dia 7 de outubro, o Hamas direcionou seu primeiro ataque a Israel, deixando 1400 mortos cidadãos e estrangeiros e 200 reféns, incluindo civis, segundo os dados colhidos pelas autoridades israelenses. Desde então, Israel tem atacado a Palestina em Gaza com força, em ar e em terra. Israel, assim como boa parte do ocidente, enxerga o Hamas como um grupo terrorista e, por isso, tem deixado bem claro, seja por meio de suas redes sociais, seja por meio dos pronunciamentos oficiais do governo, que não poupará esforços para reduzir a ameaça palestina a zero.
No dia 13 de outubro, Israel enviou um ultimato e decretou alerta para que os cidadãos da faixa se deslocassem do norte para o sul. Estando os ataques intensificados, no dia 5 de novembro, a ONU e os Estados Palestino contabilizaram a movimentação de mais de 1,5 milhão de pessoas. Vale lembrar que sair de Gaza é impossível para quem habita o território, já que as passagens para Israel e para e o Egito só servem para evacuar estrangeiros e feridos. Assim, forma-se uma verdadeira concentração de terror e devastação na região.
Foto de um bombardeio no sul da Faixa de Gaza, em Rafah, no dia 6 de novembro. Fonte:https://www.brasildefato.com.br/2023/11/07/massacre-de-israel-contra-palestinos-completa-um-mes-com-10-mil-mortos-situacao-tende-a-piorar-segundo-analistas
Na quinta semana do conflito, palestinos mortos em Gaza e na Cisjordânia já somavam mais de 10 mil. O conflito deixou perto de 5400 feridos em Israel, mas deixou o quintuplo em território palestino, sem contar os 2 mil desaparecidos. Além do mais, Israel reclama os reféns detidos pelos Hamas, e o grupo afirma que 57 dos 242 foram mortos pelos próprios ataques israelenses.
A paridade de forças
Com o passar do tempo, as ofensivas israelenses, especialmente o bombardeamento de hospitais e campos de refugiados e a retenção de água e comida em Gaza, passaram a ser analisadas com mais cautela pela comunidade internacional. O secretário de Estado estadunidense, Anthony Blinken, tem tentado dialogar com Israel de forma mais sensível, pedindo pesos iguais aos israelenses e palestinos, sem causar a morte de civis. Apesar do apoio declarado de Biden a Israel, os Estados Unidos presenciaram a maior manifestação pró-Palestina na história do país, em que 300 mil pessoas marcharam em direção à Casa Branca pedindo pelo fim do financiamento do conflito.
Tanque israelense em Gaza na última segunda-feira. Fonte:https://www.brasildefato.com.br/2023/11/07/massacre-de-israel-contra-palestinos-completa-um-mes-com-10-mil-mortos-situacao-tende-a-piorar-segundo-analistas
A retaliação de Israel à Palestina também tem fomentado debates sobre crimes de guerra, genocídio e a própria legitimidade das ações israelenses. O país alega que as medidas tomadas são necessárias para combater o Hamas, já que o próprio grupo faz uso de seus civis como escudos humanos, além de esconder armas estrategicamente e construir túneis subterrâneos sob prédios residenciais. Fernando Brancoli, professor de Relações Internacionais na UFRJ, atestou para o Brasil de Fato: “Estamos vendo a ignorância por qualquer dispositivo humanitário, com sinalização dos EUA de que os israelenses não serão contidos”.
Se Israel era intocável para Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, para José Arbex Jr., professor da PUC-SP em jornalismo, não existe mais confiança dos israelenses em Israel e, para o Estado isreaelense, a única forma de retomá-la é massacrar a resistência palestina. Além do mais, as ações do Estado israelense também condenam o país à continuidade do antissemitismo. Mesmo que os ataques do Hamas tenham trazido de volta à pauta a legitimação do Estado da Palestina e a denúncia do apartheid na Faixa de Gaza, Israel ainda tem consciência de que alguns acordos assinados seriam capazes de reduzir a Palestina a cinzas. Até onde é plausível sustentar um conflito de cartas marcadas?
A ONU
No dia 5 de novembro, a ONU divulgou que considera a morte de civis em Gaza um “ultraje”. António Guterres, mais uma vez, se pronunciou para denotar os excessos por parte de Israel. Apesar do posicionamento, a ONU não tem encontrado efeito de suas palavras no conflito Israel-Palestina.
O Conselho de Segurança esteve sob presidência temporária do Brasil durante o primeiro mês de guerra e, dada sua posição, o país tentou conciliar os interesses dos Estados-membros sem sucesso. Os Estados Unidos vetaram qualquer resolução que atentasse seu apoio à Israel, já que o país teria direito de legítima defesa. Se é assim, questiona-se o papel da ONU em conflitos como esse: como uma organização supranacional pode, de fato, atuar livremente sem a coerção das grandes potências envolvidas? Não só os interesses estadunidenses estão em jogo, mas também os russos, chineses e sauditas, por exemplo.
Linha Azul no sul do Líbano. Fonte: https://news.un.org/pt/story/2023/10/1821707
Além disso, é motivo de preocupação da Organização das Nações Unidas o monitoramento das fronteiras Líbano-Israel, dada a presença de autoridades do Hezbollah em território libanês. A atuação da ONU, porém, é limitada especialmente pelos lapsos de energia e suprimentos ocasionados pelo conflito. Apesar de estabelecerem rotas e planos de atuação, como é o caso da Linha Azul no sul do Líbano, a Organização encontra obstáculos não só nas negociações, mas em todo seu propósito, dos comitês ao campo.
O cessar-fogo não parece próximo e parece depender das decisões estadunidenses e israelenses. Apesar de os Estados Unidos estarem atentos ao fato de que o descontentamento com as ações israelenses são maiores do que nunca, ainda não podemos afirmar que Biden vai agir no sentido de impelir uma paralisação violência ou criação de corredores humanitários. Se Biden acatar essa posição, Israel terá menos força para contra-atacar como tem feito. Por enquanto, ainda é insipiente dizer que o conflito caminha para um fim.
Fontes
https://www.bbc.com/portuguese/articles/cqeplqy3e3eo
https://news.un.org/pt/story/2023/10/1821707
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