#OLHARINTERNACIONAL – APROXIMAÇÃO CHINA-BRASIL: OS RUMOS DA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA
APROXIMAÇÃO CHINA-BRASIL: OS RUMOS DA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aterrissou no último dia 11 no aeroporto de Pequim, em uma importante parada de sua agenda internacional neste início de mandato. Durante sua estadia na China, a expectativa era estreitar os laços do Brasil com seu principal parceiro comercial e pautar, também, seus interesses geopolíticos. Na sexta-feira, 14, Lula se encontrou com o presidente chinês Xi Jinping. Ao deixar o país no dia seguinte, o presidente brasileiro afirmou que as relações bilaterais entre os países entram, agora, em outro patamar. A viagem marcou um importante indicador da direção que sua política externa deve seguir neste seu terceiro mandato.
A visita à China teve como principal objetivo recolocar o Brasil em um papel de destaque na esfera da política internacional após o período de afastamento causado pela retórica radical do ex-presidente Jair Bolsonaro. O conturbado cenário geopolítico que se desdobrou nos últimos anos gerou um importante desejo por parcerias com o Brasil — desejo este que foi bem aproveitado pela diplomacia ativa do atual governo.
O presidente, no entanto, encontra importantes desafios com essa retomada. O novo mandato de Lula inicia-se com um contexto de choque entre as principais potências globais da atualidade, o que representa um grande obstáculo para o alcance de resultados concretos na cooperação internacional almejada pelo presidente. A política externa brasileira deverá encontrar um meio termo na disputa entre EUA e China e suas respectivas agendas econômicas e políticas.
Tanto os discursos quanto as agendas de Lula durante sua estadia na China transpareceram sua aposta nas parcerias com o sul-global, trazendo também críticas às estruturas de poder historicamente tendenciosas aos países desenvolvidos — especialmente a Europa e os Estados Unidos. Ao se posiciona criticamente à atual configuração da governança internacional dentro de organismos multilaterais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização das Nações Unidas (ONU), Lula resgata o desejo brasileiro de longa data de conquistar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, almejando colocar o Brasil e os interesses do sul global na mesa de decisões internacionais.
Dentro desta perspectiva, Lula reitera também a centralidade dos BRICS em sua política externa. O grupo de países formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul foi consolidado na segunda metade dos anos 2000 como uma aposta da diplomacia brasileira de criar alternativas de articulação política fora da zona de influência dos Estados Unidos e da União Europeia.
Esse esforço de articulação também traz consigo a pauta da guerra da Ucrânia. O posicionamento em favor da neutralidade do presidente Lula tem sido visto com grande ceticismo por parte do Ocidente: a recusa brasileira de fornecer armas ao conflito, assim como a insinuação de culpabilidade mútua na continuidade da guerra, fizeram com que essa neutralidade fosse questionada. Sendo a Rússia também membro dos BRICS, a pauta da guerra da Ucrânia foi central nas conversas entre China e Brasil. O desafio dos países nesse cenário internacional é proteger seus interesses econômicos em meio às agendas geopolíticas e econômicas conflitantes. A continuidade da guerra da Ucrânia no ano de 2023 pode ser um agravante para a situação econômica chinesa, prevendo um agravamento do preço do petróleo e da energia que dificultará a continuidade do crescimento chinês. Para o Brasil, o acordo entre Mercosul e União Europeia pode ser negativamente afetado pelas escolhas em relação ao sistema de segurança internacional. Os dois países assim buscam se colocar como mediadores desse conflito, clamando pela paz. De acordo com Lula,
“Somente quem não está defendendo a guerra é que pode criar uma comissão e discutir o fim dessa guerra. É preciso ter paciência para conversar com o presidente da Rússia, é preciso ter paciência para conversar com o presidente da Ucrânia, mas é preciso sobretudo convencer os países que estão fornecendo armas e incentivando a guerra a pararem”.
A jogada de Lula é arriscada: no atual momento do conflito, não espera-se nem que a Rússia retorne os territórios ucranianos ocupados, nem que a Ucrânia ceda-os para os russos. É improvável que os países capitulem em um futuro próximo, e o comentário a respeito do fornecimento de armas como incentivo ao conflito foi entendido como uma alfinetada aos Estados Unidos e à União Europeia, sendo rechaçado pelo porta-voz do governo americano.
A estratégia do presidente, no entanto, está de acordo com a tradição brasileira de mediação e multilateralismo. Após a reação negativa à suas falas na China, Lula voltou a reiterar a condenação à violação da integridade territorial da Ucrânia, mesmo defendendo a solução negociada para o conflito.
Entende–se, então, como a articulação de uma política externa autônoma e centrada nos países emergentes começa a tomar contornos cada vez mais nítidos. A estratégia brasileira indica uma tentativa brasileira de ganhar espaço na geopolítica internacional. A China, como membro do BRICS, apresenta-se como importante parceiro e investidor nessa empreitada. Um dos acordos assinados entre Beijing e Brasil definiu a realização do comércio entre os dois países em suas próprias moedas, abandonando o dólar americano como intermediário. Esse afastamento da moeda americana mostra-se como uma jogada ousada que estabelece o tom da parceria Brasil-China, assim como da estratégia internacional brasileira, daqui para frente.
Texto escrito por: Marianne Winker Moreira. Arte e apresentação: Bruno Alves. de O. Fernandes
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